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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

10
Abr22

Até já…

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Na semana passada refleti muito sobre a minha presença na blogosfera, sobre a minha voz, sobre este Espaço das Pequenas Coisas.

 

Pensei se seria oportuno continuar a publicar pequenas coisas quando há coisas tão grandes e importantes a acontecer no mundo e que me fazem sentir tão pequena e impotente.

 

Eis que os comentários do leitor são, regra geral, encorajadores e compassivos. Foi uma pequena coisa, mas fez-me sentir reconhecida por ter partilhado emoções e sentimentos tão íntimos.

 

A verdade é que há muitas forças a moverem-se nos bastidores deste Espaço que me fizeram perder alguma objetividade, capacidade para ler e investigar e, sobretudo, disponibilidade para me expor neste palco d’As Pequenas Coisas.

 

Não sendo um Adeus, é um Até já…vou cuidar de mim e dos meus. Vou dando notícias de pequenas coisas.

 


VER NO SOFÁ
Não podia deixar de falar sobre os filmes que me ajudam a criar alguma perspectiva como Lost In Translation (Sofia Coppola), que me transporta para aquilo que nos une enquanto seres humanos e o que a intransponibilidade que, por vezes, criamos socialmente.
Outro filme que me ajuda a relevar as dores da vida é o filme About Time (Richard Curtis) que fala sobre família, crescer e a necessidade imperativa de viver o dia-a-dia com alegria e esperança.


LER DEVAGAR
Há uns anos, quando os meus primos se mudaram para a Dinamarca, resolvi oferecer-lhes o livro Hygge (Meik Wiking) que me trouxe o conforto dos serões passados à lareira ou as manhãs frias da aldeia, a necessidade de estar em comunhão com a Natureza.
Outro livro a que volto sempre é Cem Anos de Solidão (Gabriel García Márquez) que também fala sobre as famílias e a complexidade das relações.
Não podia deixar de escrever sobre Fernando Pessoa e a sua poesia que tanto nos dá e sobre Milan Kundera e a estranheza da experiência humana, do amor e da liberdade.
No que toca à literatura, escolher é quase profano.


OUVIR COM CALMA
Sempre que me sinto inquieta volto à música clássica. Ouvir a Sinfonia no. 4 de Bach transporta-me para a minha infância e adolescência, as emoções fortes e a comunhão com a Natureza.
A Bossa-Nova é uma presença constante na minha vida, seja a cozinhar ou a dançar, evoca sentimentos de saudade e nostalgia, amor e alegria, a revolução. Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Maria Bethânia, Elis Regina, entre tantos mais.
A verdade é que o silêncio é o mais poderoso dos sons e, por vezes, passo uma temporada sem ouvir música, só o som da vida a acontecer.


DE OLHOS BEM ABERTOS
Há muitos artistas que me comovem mas nenhum como Frida Kahlo cuja história de vida é inspiradora e tão violentamente exposta na sua pintura e fotografia.
Há muitos anos vi uma exposição de Alberto Carneiro e fiquei sem palavras. Mais uma vez apareceram os temas da comunhão com a Natureza e a harmonia da vida.


VAGUEANDO POR AÍ
Algumas das minhas viagens preferidas estão ligadas à história dos lugares e às pessoas que conheci. Em Itália sentimo-nos em casa, as pessoas são tão próximas da família e afetuosas como os Portugueses, a comida não deixa nada a desejar e a paisagem é de uma beleza infinita.
Na Turquia quase fiquei sem ar, perante a beleza da paisagem e engenhosidade dos nossos antepassados para sobreviver com segurança e algum prazer. Apesar de vivermos de forma tão diferente, não há dúvida de que há um sentimento de comunhão, de familiaridade com alguns aspetos culturais, porventura alguma memória histórica que perdura na nossa memória coletiva…

27
Mar22

Reset

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Nas últimas semanas tenho tido muita dificuldade em dormir, o meu coração bate (literalmente) mais depressa e as enxaquecas são mais frequentes. A guerra, o covid, o futuro parecem absurdos. O mundo parece estar suspenso, à espera de um sinal, um ramo de paz, algo que nos permita suspirar de alívio. E, no entanto, os noticiários enchem-se de histórias de desgraça, desespero, fratura.

 

Sei que pode parecer fútil, até inconsciente mas, para bem da minha saúde, decidi não ver mais noticiários. Claro que continuo a ser fiel leitora dos principais jornais e cronistas, mas não aguentava mais o poder que as imagens têm sobre mim. Por isso decidi parar e quando parei chorei. Por todas as crianças que ficaram órfãs, por todas as Mães que deixaram os seus filhos, por todos os jovens que lutam nesta guerra, por todo um povo que luta pelo seu território, pela sua identidade. Bem sei que existem muitas guerras, mas esta é aqui, no nosso bairro, com os nossos vizinhos, com os nossos amigos.

 

Depois de secar as lágrimas, lembrei-me do que a minha Mãe me diz sempre: “se não estamos bem, não podemos cuidar dos outros”. Por isso decidi olhar bem para mim, pensei em todas as coisas difíceis que 2022 já me trouxe, mas também nas alegrias. De repente comecei a sentir o meu corpo, as dores nas costas, nas pernas, no pescoço. Tenho tomado alguns banhos de imersão, feito muitos alongamentos, apertado os músculos contra o foam roller. Alguma dor melhorou, mas tenho de reconhecer, grande parte desta dor é também mental.

 

Então senti o meu coração, o que doía mais, a solidão, o isolamento, a desconexão com os meus, mas acima de tudo a clivagem dentro de mim. Precisava de me agregar, mais do que com os outros, comigo mesma em primeiro lugar. Escrevi num papel o que preciso de fazer para me sentir bem num dia, só mesmo o básico: acordar, espreguiçar-me, tomar um duche, comer a horas certas e incluir sempre legumes e fruta, fazer a minha rotina de pele, dar um passeio ao ar livre, ler pelo menos dez minutos, escrever uma página por dia.

 

Já não sei dizer onde ouvi, mas ser adulto é simplesmente fazer as coisas chatas da vida: responder a emails, ligar a pessoas, marcar reuniões, ir aos correios, esperar na fila das finanças, ouvir muitos “não”, cometer vários erros. Se tivermos sorte, nada será tão mau que não possa ser corrigido com um pedido de desculpa, alguma empatia e muita compaixão.

 

 

OUVIR COM CALMA

Muito antes desta guerra, José Milhazes falou da complexidade das relações entre a Ucrânia e a Rússsia e a Rússia e o Ocidente, bem como dissertou sobre a cultura e visão russas no podcast #45GRAUS. Vale a pena ouvir.

 

VER NO SOFÁ

E hoje conhecemos os vencedores dos tão cobiçados OSCARES. Ao que parece, a RTP volta a transmitir a cerimónia em direto a partir das 23h, na RTP1. Quais são os vossos filmes favoritos?

20
Mar22

Dia Mundial da Poesia

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@rupikaur_

 

VER NO SOFÁ

A Fundação Francisco Manuel dos Santos organizou mais um Fronteiras XXI desta vez sobre o Cancro, o estado das coisas e o que ainda pode ser feito. Como melhorar a esperança média de vida mas sobretudo como melhorar a qualidade de vida dos doentes com cancro. Vale a pena espreitar no site da fundação ou na RTP3. 

 

 

13
Mar22

O meu amigo

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Há umas semanas perdi um amigo. Não era um amigo de longa data, mas era, como diz a minha Tia Zizi, um “amigo de casa”. Há os amigos com quem saímos na escola e na faculdade, há amigos circunstanciais do trabalho, há amigos de amigos, há melhores amigos e depois há os “amigos de casa”. Um amigo de casa é uma pessoa com quem crescemos que não só nos conhece, mas conhece a nossa família, os nossos amigos, os nossos parceiros. É um amigo com quem passamos tanto tempo que é impossível recordar todas as histórias.

 

O meu amigo de casa era o melhor amigo do meu Príncipe. Quando somos mais novos temos o nosso grupo de amigos ou alguns melhores amigos, em quem confiamos e que confiam em nós os maiores segredos, as experiências mais mundanas e incríveis, os amores e desamores, a vida a acontecer.

Mas quando crescemos e gostamos muito de alguém, aprendemos a amar os seus amigos como se de nossos amigos de casa se tratassem. Os seus problemas e alegrias passam a fazer parte da nossa vida, como fazem parte da vida do nosso Amado. Sentimo-nos gratos e felizes por serem tão bons amigos do nosso Príncipe, por o amarem quase tanto como nós, por cuidarem do nosso Amor, por partilharem as memórias e novas histórias, por nos darem a conhecer uma outra versão do nosso Querido. Se tivermos sorte, partilhamos uma responsabilidade pelo bem-estar do nosso Amado e imaginamos um futuro em conjunto, imaginamo-nos a partilhar a vida entre amigos, apadrinhar os casamentos, os filhos, férias e viagens, concertos, exposições e espetáculos, conversas que se prolongam noite adentro, filhos amigos, partilhar a vida a acontecer.

 

Quando há uma interrupção abrupta dessa amizade, construída ao longo de anos, uma amizade por extensão da qual também nos apropriamos, a vida pára de acontecer, ainda que por umas horas, uns dias, umas semanas. Nem todos compreendem esta suspensão do tempo, este mergulho numa profunda tristeza, num mar de histórias e memórias, de desamparo, e um ímpeto de proteção e clausura

 

O meu amigo era bom, tinha uns olhos vivos e um sorriso malandreco. Era alto e magro, muito destemido no seu sentido de humor, um performer nato, tanto na comédia como na música. O meu amigo era generoso, nas palavras e nos actos, nunca nos visitava sem uma palavra amiga e um “bolo da melhor confeitaria da cidade”. Era grandioso nos gestos, cauteloso nos sentimentos, protetor dos pensamentos. O meu amigo era o melhor amigo do meu Príncipe, partilharam toda a adolescência, a juventude e um pouco da idade adulta. Mas o meu amigo também era meu amigo e por isso sinto muito a sua falta.

 

 

OUVIR COM CALMA

A propósito do covid e suas consequências, o médico intensivista Gustavo Carona dá uma entrevista a Inês Meneses no seu podcast Fala com Ela. O médico portuense já deu a volta pelo mundo em missões humanitárias, escreveu dois livros e continua a tornar o mundo melhor.

06
Mar22

Todas as almas

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Fotografia: Reuters

 

Pela primeira vez em muitos anos faltam-me as palavras. É claro que há muitas palavras feias e cruéis que se formam no meu cérebro mas nunca chegam a ser ditas. O som das palavras não se compara à violência dos bombardeamentos que deixam um rasto de destruição por toda a Ucrânia, um país independente com um povo soberano.

Este é O Espaço das Pequenas Coisas e, talvez por isso, esta guerra extravase as medidas. Parece que só é possível pensar nas coisas grandes da vida: morte, identidade, guerra, esperança, amor, ódio, união. Talvez a História relembre o povo ucraniano como o Povo Herói, o Presidente como Zelensky, o Corajoso ou talvez tudo desapareça em poucos segundos com uma bomba nuclear.

O futuro é incerto e assustador, é revoltante e deprimente. Há pessoas que reagem com uma tristeza maior que um fundo de um poço. Outras que se mobilizam para campanhas humanitárias para ajudar os que fogem e os que ficam. Muitas sentem raiva e medo e ficam paralisadas. Seja como for, tenho esperança porque se os ucranianos a encontraram força para lutar pela sua identidade também nós temos o dever moral de os ajudar.

 

OUVIR COM CALMA

Terminou a segunda temporada da badalada série Euphoria (HBO), com uma soberba banda sonora produzida pelo músico Labirinth. Fiquei particularmente com a canção I’m tired de Zenday e Labirinth, com um tom dark gospel, uma letra muito clara, é um hino à esperança na vida.

 

VER NO GRANDE ECRÃ

Já está em cartaz o novo filme do The Batman (DC/Warner Bros), protagonizado por Robert Pattinson e ainda com Zoë Kravitz, Paul Dano, Jeffrey Wright, John Turturro, Peter Sarsgaard, Andy Serkis e Colin Farrell. Realizado por Matt Reeves, este filme revisita a trilogia Batman (DC) lançada pela primeira vez por Christopher Nolan (2005).

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