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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

16
Jun20

A inevitabilidade de envelhecer

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Daqui a uns dias faço anos, aproximando-me cada vez mais de uma data funda, de um marco histórico. Não deixa de ser irónico envelhecer num dos dias mais longos do ano, como se envelhecesse mais lentamente, mais prolongadamente...

A verdade é que frequentemente o Outro fica surpreendido quando revelo a minha idade. Não que seja um segredo. Fazer anos é bom, envelhecer é uma prova de que ainda estamos aqui, como escreveu Miguel Araújo. É só aquela ruga que teima em aparecer, aquela que insiste em mostrar ao mundo o que não fiz, o que desejava ter feito de outra forma e aquilo que nunca farei. 

O que nunca farei é o que provoca as minhas insónias. À medida que vamos envelhecendo, olhamos para o passado com nostalgia, esse passado idealizado, remoído, tantas vezes vivido - só no desejo. 

Lembro-me de ter uns sete ou oito anos e pensar: "quando tiver dezoito anos é que é". Depois fiz dezasseis anos e percebi que não era a pessoa que o meu Eu de oito anos idealizou. Então decidi que aos trinta e cinco teria a minha vida toda organizada: curso, casamento, casa e crias (como dizia a minha Avó). Os vinte e cinco chegaram como um furacão, a minha visão do mundo mudou. Percebi que os meus Pais eram pessoas como eu e o leitor, pessoas que amam, cometem erros, têm sonhos e sofrem. Decidi, então, dedicar-me aos outros, ser mais paciente, escutar os medos atrás de grandes discursos, ter mais compaixão pelo outro. 

Até hoje, tenho-me mantido fiel a esses princípios a que me propus com vinte e cinco anos. Com alguns precalços, procuro olhar os outros além das suas palavras e ter compaixão pelas suas falhas, pelos seus medos, pelas suas perdas. Ainda me debato comigo mesma, ainda tenho dificuldade em ter compaixão pelos meus erros, pelos meus medos, pelas minhas perdas. Mas o mundo avança, não tenho razão para não ter esperança. Talvez este ano.

02
Jun20

JD, agente secreta

JD a agente secreta.jpg

Era pequena, devia ter uns cinco ou sete anos, a pessoa mais incrível da história da televisão, a minha heroína era a protagonista de uma série animada chamada JD. Joana Dias ou nome de código "JD" trabalhava nos serviços secretos britânicos, resolvendo casos ao mais alto nível. 

Contrariamente a muitas personagens da época - entenda-se no mundo da Disney - JD não tinha nenhum príncipe ou parelha. Surpreendentemente, resolvia os casos recorrendo a gadgets gravados com o seu monograma: um espelho que permitia ver até 10 metros de distância, um batôm que disparava potentes tranquilizadores que aniquilavam o inimigo em 2 segundos e, claro, a sua aptidão imbatível nas artes marciais.

Em cada episódio, JD parecia ser a única capaz de resolver os mistérios mais obscuros. A cada episódio os desafios tornavam-se maiores especialmente com a pressão dos pais para que JD casasse. Inamovível, JD recusava o mundo luxuoso dos pais, preferindo passear no seu carro vermelho.

É curioso pensar como uma série animada italiana dos anos 90 pode causar tanto impacto na vida de uma pessoa. Em tantos episódios da minha vida dei comigo a pensar na confiança impassível de JD, na sua crença inabalável na resolução do caso.

Por estes dias, pergunto-me o que acharia JD do estado do mundo. Pergunto-me como resolveria este mistério da falta de empatia, de compaixão e aceitação no mundo. Que golpes inferiria para combater o racismo, a xenofobia, o sexismo, a ignorância? 

Na minha arte marcial preferida, o Tai chi, aprendemos a usar a força do adversário na nossa defesa e contra-ataque. Em tempos pandémicos, o melhor será escrever, dar voz à empatia, à compaixão, à diversidade. 

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