Não se fala muito sobre perdoar.
De facto, não falamos quase nada sobre perdão, além da temível figura altiva da minha infância, aquela figura um pouco reminiscente do Antigo Testamento que tudo perdoa se for boa para o meu irmão, se ajudar os meus pais a por a mesa.
Diria mesmo que perdoar parece ser um tema tabu.
No dia-a-dia, se tivermos um pingo de sensibilidade, pode haver um milhão de pequeninas coisas que nos podem magoar: alguém não cedeu o lugar a uma pessoa idosa, uma pessoa não cedeu passagem na porta, alguém não pediu licença, uma pessoa levantou a voz, alguém se atrasou.
E isto são só as coisas minúsculas que formam falhas microscópicas no nosso bem-estar e na imagem que temos de nós próprios e do mundo.
As coisas grandes, essas que ferem o nosso ego: mortes, doenças, perdas, problemas financeiros, conflitos familiares, zangas com amigos, fatores externos que cumulativamente podem destruir a nossa capacidade de agir no mundo. Falta de compaixão, de empatia, de amor próprio e pelos outros são consequências no mundo interno de todas estas coisas por explorar, por reflectir, por resolver.
É necessária toda a nossa coragem, olhar para dentro, fazer o trabalho, recorrer à honestidade e perdoar. Começar por nós próprios, perdoar as nossas falhas, os nossos erros: o nosso silêncio quando devíamos ter falado, o nosso ruído quando nos devíamos ter calado. E assim avançamos, com compaixão e empatia, traçamos um novo plano e pomo-nos a caminho. Por nós, pelos outros, pelo mundo.