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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

30
Ago20

Sunny Delight

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Durante esta semana, numa das nossas caminhadas, circundamos a escola onde cresci. Apontei para as diferentes salas onde tive Fisco-Química, Ciências, Geografia, Educação Visual. Passámos junto a uma ala nova da escola e contei-lhe como havia sido penoso aquele ano quente nos contentores. É claro que ele já tinha ouvido todas estas histórias várias vezes, mas naquele dia, talvez por também ser um dia quente, deixou que continuasse a percorrer as minhas memórias e caminhámos juntos na avenida da minha adolescência. 

"-Ali" - disse eu, apontando para o que fora outrora o descampado. "-Agora não dá para ver, com estas linhas bem desenhadas no chão, o campo dividido, mas naquele tempo, tudo isto era um descampado e jogávamos basquetebol, três contra três".

Pareceu surpreendido, abriu a boca num sorriso meio infantil, como quem descobre algo de novo e disse "Nunca me tinhas contado essa história! Sabes que também joguei "basquete"? Até joguei naqueles torneios Sunny Delight! Podíamos ter-nos encontrado!". Depressa o seu sorriso deu lugar a uma expressão contemplativa, murmurou: "Ah...claro que não...eu seria muito mais velho, nunca podíamos ter jogado juntos!"

Logo o animei: "Mas se tivessemos jogado juntos, de certeza ias ganhar! Vê bem, eu só cheguei como substituta!". Pareceu animar-se, afinal ainda havia a possibilidade de nos termos encontrado. 

Continuámos a caminhar...nestes tempos de pandemia tudo o que podemos fazer é continuar a caminhar.

 

 

23
Ago20

O Rei de Staten Island

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O texto seguinte contém spoilers!

Esta semana assisti a uma das acalmadas comédias do ano “The King of Staten Island” de Judd Apatow.

O filme, escrito em tom semi auto-biográfico, segue alguns meses dos 24 anos de Scott (Pete Davidson), na sua transição para a idade adulta: a separação da Mãe, a descoberta da carreira profissional, a vida amorosa, o desenvolvimento da identidade. O filme explora a ferida profunda deixada pelo Pai de Scott morreu quando Scott tinha apenas 7 anos (na realidade o Pai de Pete Davidson morreu ao tentar salvar uma família no hotel Marriott no 11 de Setembro de 2001).

O aspecto porventura mais tocante do filme surge na personagem da Mãe (Marisa Tomei) que toma medidas extremas, acabando por aceitar Scott por quem é, com as suas excentricidades e características muito próprias que tornam o filme uma experiência muito emocionante.

Não menos interessante é a dinâmica entre Scott e a irmã Claire (interpretada por Maud Apatow), num misto de cumplicidade e rivalidade, entre alianças para desfazer a relação da Mãe com o novo namorado e a competição natural entre irmãos.

Também curioso é o sentimento de nostalgia pelo que nunca existiu - ou o que nós, portugueses, conhecemos como o movimento saudosista - o desejo glorificação de Staten Island. “Se Brooklyn tem Williamsburg, Staten Island um dia também vai ser cool”, certo?

Talvez o aspecto mais majestoso deste Rei seja mesmo a forma forma como toma os amigos por garantidos. Esta ideia de que mesmo quando discordamos fundamentalmente, os amigos são para sempre.

Crescer, na maioria das vezes, significa perder alguém, como aliás Pete Davidson acaba por explicar. Sejam familiares ou amigos, perdemos as pessoas porque simplesmente deixamos de ter os mesmos valores, as mesmas crenças, a mesma visão. O que nos parecia tão certo (no caso de Scott, a qualidade das tatuagens que o próprio fazia aos amigos) rapidamente é desmontado (com uma das falas mais hilariantes do filme, acompanhadas de tatuagens verdadeiramente criativas).

Claro que não seria um filme de Judd Apatow sem um momento de redenção na personagem de Kelsey (Bel Powley), amiga (e interesse amoroso de Scott), com quem acaba por viajar até Manhattan e descobrir um mundo novo onde já não é Rei precoce, nem sequer Príncipe, é só mais um e o resto é história.

 

16
Ago20

Como se ninguém me visse

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Depois da viagem com as mochilas todas (ver crónica anterior), era sempre necessário olhar para o mapa e tentar descobrir a localização da casa. Inevitavelmente perdíamo-nos umas quantas vezes mas para encontrar-se é preciso perder-se e lá víamos alguma cara inglesa ou alemã ou holandesa.

Arrumadas as coisas na sua casinha, vamos descansar.

No dia seguinte enfrentamos as divertidas mas temíveis ondas da Costa. Quando era pequena, pareciam-me tão grande que se fosse engolida talvez me transformasse mesmo numa Pequena Sereia.

Durante horas ficamos na água, agora já não só eu e o Pai, e tentamos observar as correntes, ver em que direcção as ondas vão, onde está o pico da sua força, posicionar-nos corretamente, esperar pelo melhor e...deixamo-nos ir...

Observar as correntes, ver a direção do vento, o pico da força, posicionar-me correctamente e deixar-me ir...como se ninguém me visse...

Repetimos tantas vezes quanto o corpo nos permite até a fome apertar. Então todos para a toalha, continuamos a comer sandochas, beber minis ou pedras, ver as ondas, a encosta escarpada, conversar sobre o agueiro de hoje, sobre as notícias do dia, a bola, a política (ainda bem que somos todos do mesmo espectro quer clubístico), as tendências da moda, nada de muito profundo.

Depois de uma bela sesta, quando éramos pequenos o Pai sentia-se renovado e íamos para o mar.

Agora, em vez das ondas com o Pai, eu e o meu Príncipe damos longos passeios na praia, procuramos conchinhas, mexilhão, percebes, o ocasional “sr. Polvo” como as nossas priminhas gostam de lhe chamar.

Vemos o pôr-do-sol todos juntos e damos um último mergulho, aquele que já gela os ossos, os músculos e todas as articulações.

Ali, naquela praia do Sul, cujo nome nunca direi, estou viva como se ninguém me visse...

09
Ago20

Meu querido mês de Agosto

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Desde que me me lembro de formar um pensamento, em Agosto rumamos a Sul.

 

A Mãe corria de um lado para o outro com sacos que se multiplicavam: mochila da praia, mochila de lanches, mochila dos brinquedos de praia, mochila da cozinha e por aí fora.

 

Entretanto o Pai perdia os seus (já poucos) cabelos ao tentar encaixar tudo perfeitamente na mala da carrinha, mal-dizendo a necessidade da Mãe “levar a casa às costas”.

 

Enquanto esta pequena dança anual se dava, eu e o meu irmão arrumávamos os nossos lugares com os nossos leitores de música (nos primeiros anos os Walkman, depois os discman e mais tarde os leitores de mp3), os livros, os brinquedos e, claro, os snacks.

 

Das férias recordo as ondas, as sandes do meu Pai, ver a moda de Outono com a minha Mãe, ouvir música sem fim com o meu irmão, ler e escrever e pensar e olhar o mar.


Ontem fui à praia em tempos de covid.

Por momentos deixei-me estar, só a ouvir o mar, as gaivotas, as crianças, as famílias, o vento, a areia nos meus pés, o sal na minha pele, o sol na minha face. Deixei-me estar naquele momento.

02
Ago20

Para o meu amor

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Que o meu amor seja
Fogueira quente no inverno
E brisa refrescante no Verão
Folhas secas no Outono
Andorinha na Primavera.

Que o meu amor seja
Bacalhau na tua boca
Ou melão na tua boca
Ou todas os frutos que amas
E as comidas que devoras num segundo.

Que o meu amor seja
Uma página dos livros que te ofereço
Para durar uma eternidade
Para existir devagar
Para percorrer a tua mente
Para vaguear no teu coração.

Que o meu amor seja
Um pedaço de arco-íris
Que atravessa a tua íris
E percorre todo o teu olho
E vai no teu nervo óptico
Entrando pelo teu cérebro
Conhecendo os teus sonhos
E por lá fica a admirá-los.

Que o meu amor seja
Sempre a tua casa
O teu porto de abrigo
O teu conforto
O teu colo
Teu lar.

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