Kit de sobrevivência VI - Anónimo
Na entrevista ao prestigiadíssimo programa “60 minutes”, Donald Trump começa por atacar a jornalista, protestando que o tipo de perguntas que lhe estavam a ser colocadas era muito mais duras do que as da entrevista a Joe Biden.
Em primeiro, a entrevista com Joe Biden ainda não tinha estreado à data. Em segundo, a jornalista limitou-se a confrontar Donald Trump com os números do covid nos Estados Unidos até à data: mais de 225 mil mortes, mais de 8 milhões de casos. A resposta do Presidente: uma economia “melhor do que nunca”, levantar suspeitas sobre os alegados negócios do filho de Biden, a sua excelente política externa, particularmente a sua relação próxima com o ditador Norte-Coreano.
Uns dias mais tarde, assisti ao hilariante e desconcertante novo filme de “Borat”, no qual o advogado de Trump é exposto numa cena inacreditável, digna de um filme da máfia. Infelizmente, a cena parece ser bem real. Alguns leitores poderão dizer que Rudy Giuliani foi “apanhado com as calças na mão” (literal e figurativamente), seja como for, revela o clima sexista, perverso, condescendente que paira sob a tutela do atual Presidente dos Estados Unidos. Mais, a eleição de Trump em 2016, legitimou e deu força à cultura do bullying, da ignorância, da desinformação, da polarização, da intolerância.
Há alguns anos estive numa escola num projeto e o que observei foi muito diferente do que acontecia quando eu andava na escola. Atualmente, pelo que soube, existe sobretudo o cyberbullying porque para o bullying na escola há tolerância zero. Sempre que, durante o tempo em que estive na escola, havia algum rumor de bullying, o bully era chamado ao gabinete do Diretor da Escola e por lá ficava umas boas horas de castigo. Como vim a descobrir, muitos destes bullies eram eles próprios vítimas de agressão física ou psicológica, na sua casa ou no seu grupo de amigos.
Então, o que fazer quando um Presidente é um bully? Nada, porque, como escreveu Pedro Cordeiro, no Expresso, "Seis-três é a conta que Donald fez". Assim, como derradeiro grand finale Trump nomeia Amy Coney Barrett, juíza ultraconservadora, para o cargo vitalício de Juíza do Tribunal Supremo.
Ainda que Trump ganhe as eleições, resta-nos apenas continuar a caminhar. A história avança, não há razão para não ter esperança.