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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

29
Nov20

Dar Graças

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Esta semana falou-se sobre a possibilidade de Donald Trump atribuir um perdão presidencial a si próprio e, assim, escapar vários processos entre os quais fraude fiscal, abuso de poder, entre outros.

 

Esta semana celebra-se, nos Estados Unidos, o Dia de Ação de Graças.

 

Embora estejamos do outro lado do espectro, do lado dos colonizadores, dos que chegaram, se apoderaram das terras, escravizaram os povos, destruíram as tradições, eu diria que ainda há muito a ser feito para reparar as relações entre colonizadores e colonizados.

 

Mas, de repente, dei comigo a sentir esperança. Há muitos meses que não sentia esperança. Esta semana nasceu um primo meu, uma nova vida, mas mais do que isso, senti que posso respirar outra vez.

 

Pela primeira vez em meses, com a eleição de Joe Biden e Kamala Harris, o tom acalmou, tal como quando alguém baixa o som da televisão, a gritaria parou e finalmente podemos ouvir-nos uns aos outros com respeito, compaixão e harmonia.

 

Se o leitor me permite, estou muito grata pelos nossos profissionais de saúde, pelos trabalhadores de todos os sectores que todos os dias arriscam as suas vidas para a nossa segurança, pelas forças de segurança, pela saúde e segurança da minha família e por todas as pequenas coisas que tornam o meu dia melhor: o meu pequeno-almoço igual todos os dias, a minha almofada, os abraços do meu Príncipe, os livros que li este ano, as séries e filmes que vimos juntos, os passeios que demos e as conversas que nos aproximaram, as piadas que mais ninguém ia achar graça, o nosso pinheiro de Natal, as fotografias que tirei este ano e, sobretudo, o apoio que vocês, leitores do espaço das pequenas coisas têm manifestado desde o início. Muito obrigada.

25
Nov20

Kit de Sobrevivência X - Mahatma Gandhi

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Há quase 8 meses deixamos de comer carne.

 

Não foi uma decisão do dia para a noite, nem foi tão radical quanto o leitor possa pensar. Não somos fundamentalistas (só no futebol, como diz a brincar o meu Príncipe).

 

Se pensar bem, foi uma coisa que foi acontecendo naturalmente. Primeiro, vieram os rumores de “estado de emergência” por isso tratei de abastecer a minha dispensa de conservas: atum, massa, ervilhas, grão-de-bico, feijões, etc.

 

Depois, o mais importante: fiz uma bela panela de sopa que congelámos em doses duplas para uma eventualidade. E assim, nunca nos lembrámos da carne. Só em Junho, o meu querido Príncipe disse um dia “acho que me apetecia uma bolonhesa”. Era um Sábado, então lá fui ao talho em frente a nossa casa, encomendei a carne, arregacei as mangas e pus-me a caminho.

 

Fiz uma arrabiatta que havíamos comido vezes sem conta durante os meses anteriores mas, para o meu amor, acrescentei a carne. Adorou. Encorajou-me a provar, mas, para ser sincera, depois de quase dois meses sem comer carne, fiquei com dores de barriga a tarde toda.

 

O meu Avô sempre salientou a importância de sermos independentes, por isso não me identifico como pesquetariana, nem vegetariana, nem vegan. Se for a casa de alguém e não houver absolutamente nenhuma alternativa, sou capaz de comer carne, embora saiba que vou ficar com dores de barriga.

 

De qualquer maneira, desde pequena, pelas histórias que a Mãe conta e do que me lembro, nunca gostei muito de carne, sempre gostei de sopa e legumes, batata e arroz. Já o meu Príncipe gostava muito de um bom bife, um frango assado, uma bela de uma feijoada.

 

Por isso, fui encontrando alternativas às comidas de que tanto gosta: caril de legumes é um hit na família, salada grega nos dias de Verão foram um sucesso, couve-flor assada com tomate seco e queijo gratinado, risotto de cogumelos, são alguns dos nossos pratos preferidos.

 

Tal como na nossa relação, tudo foi acontecendo naturalmente, por tentativa-erro, sempre apoiando um ao outro, com alguns percalços pelo caminho, mas com uma visão por um planeta melhor para os nossos filhos.

22
Nov20

Quem conta um conto, acrescenta um ponto

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Noutro dia, num dos nossos passeios (ver crónica "Sunny Delight"), decidi aventurar-me e partilhar com o meu Príncipe uma teoria que me tem acompanhado desde que ouvi o discurso de inauguração de Joe Biden.

Joe tinha 30 e poucos anos quando perdeu a mulher e a filha num acidente de carro, tornando-se, portanto, num jovem viúvo. Dois anos mais tarde, através do irmão, conhece Jill Jacobs, uma jovem estudante e foi amor à primeira vista.

 

Esta história foi contada dezenas de vezes em entrevistas, comícios, festas, mas há outras maneiras de contar a história. Jill estava a meio de um divórcio difícil, com dúvidas sobre seu curso, insegura sobre o seu papel na vida dos filhos de Biden. Consta que Joe pediu Jill em casamento várias vezes antes do “sim”. Embora pareçam uma família muito unida, passaram por muitas provações: a morte de Beau Biden, o filho mais velho, a toxicodependência de Hunter Biden (o filho do meio) e o seu romance com a viúva de Beau, a pressão de uma vida pública.

 

O que quero dizer é que a vida é difícil, mas nós escolhemos a história que contamos a nós mesmos e aos outros. Podemos ser o herói ou a vítima, o amigo ou o vilão, tudo depende da voz que alimentamos dentro de nós, a vozinha que diz “não sou bom o suficiente” ou a voz que diz “vou conseguir”.

18
Nov20

Kit de Sobrevivência IX - John Lewis

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Uma vez, quando andava no terceiro ano, vi-me envolvida no meio de um conflito simplesmente porque me recusei a tomar partido entre duas colegas da minha turma.


Como disse, nunca fui de conflitos, não me comprometi com nenhum dos lados e assim vi crianças, pessoas, de ambos os lados virarem-se contra mim. Eram 30 alunos na minha turma, contei os que estavam contra mim, eram 16. “Mais de metade”, pensei.

Este episódio marcou a minha vida porque, quando chegou aos ouvidos do meu Avô, ele simplesmente encolheu os ombros, e disse: “durante a minha vida, tive muita gente contra mim. Mas também tive um grupo a meu favor”.

Quando ocorreu o tiroteio em Christchurch, na Nova Zelândia, a Primeira-Ministra Jacinda Arden, disse o seguinte sobre o terrorista: “Ele procurava muitas coisas através das suas ações, umas das quais notoriedade, e é por isso que nunca me ouvirão mencionar o seu nome”.

Ao ouvir estas palavras, senti um enorme poder, o poder de controlar como reagimos ao que nos acontece.

Sim, eram mais de metade, mas eu sempre fui uma pacifista, uma ativista e toda a minha vida lutei pela cidadania ativa através de organizações independentes, associações de estudantes, voluntariado. Mesmo quando me encontrava em situação de fragilidade procurei ajudar outros.

E é por isso que, n’O espaço das pequenas coisas, nunca lerão o nome de um fascista que, segundo consta, foi eleito para o Parlamento Português. Um bully que, tal como Trump, usa táticas de populismo e mentira, para alcançar os seus objetivos. Também não lerão sobre as jogadas que faz ou a quem se alia. A democracia não é adquirida, é preciso lutar por ela todos os dias.

15
Nov20

Buraco negro ou a Internet

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Imagem: Event Horizon Telescope

 

Na extensa pesquisa para a minha crónica mais recente (“Kit de Sobrevivência - Kamala Harris”), confesso que entrei num buraco negro, lendo e assistindo a horas e horas de entrevistas. Comecei no bom caminho, com a generalidade da vida da nova Vice-Presidente, até ao som de Mary J. Blige, a sua intérprete favorita.

 

Depois, achei curioso o casamento aos 49 anos e comecei a minha investigação sobre Doug Emhoff, encontrando uma entrevista entre Doug e Chasten Buttigieg, marido de Pete Buttigieg, candidato democrata à presidência que abandonou a corrida presidencial e apoiou Joe Biden.

 

Foi aqui que começou a minha espiral em direção ao buraco negro que é a internet. Sim, descobri imensas coisas fascinantes sobre Doug Emhoff, a maneira carinhosa como apoia Kamala Harris. Melhor ainda, fui completamente sugada para o carisma de Pete Buttigieg, o candidato democrata mais novo à corrida presidencial, casado com um professor inspirador, que parece realmente gostar de ensinar.

 

Em grande medida, já conhecia a história de Jill Biden de mais uma excursão ao buraco negro na altura da saída de Barack Obama da Presidência dos EUA. Desta vez, resolvi revisitar a sua biografia com maior atenção. O que mais me impressionou em Dra. B (como gosta de ser tratada pelos seus alunos) foi a sua capacidade de se reinventar. Depois de um casamento breve, quando ainda estava a passar por um divórcio complicado, conhece Joe Biden num blind date (tal como Kamala Harris e Doug Emhoff).

 

Consta que Joe Biden pediu Jill em casamento cinco vezes antes do “sim”, a explicação? Jill queria assegurar-se de que seria capaz de cuidar dos filhos de Biden como uma mãe, criar uma família, ser um porto de abrigo. E assim, a 17 de Junho de 1977 Jill e Joe casaram na Capela das Nações Unidas por um Padre Católico, apesar de Jill nunca ter declarado a sua fé. Durante o seu papel de Segunda-Dama, Jill Biden continuou a ensinar em universidades comunitárias, conciliando com a sua mais famosa iniciativa “Joining Forces”, um programa de apoio às famílias de militares norte-americanos.

 

Numa entrevista, as netas falam de um lado pouco ortodoxo de Jill: as partidas. Aparentemente, a nova Primeira-Dama gosta de uma boa gargalhada, tendo mesmo pregado uma partida ao seu staff escondendo-se na cabine do avião. Além disso, a mulher de Joe Biden corre cinco milhas cinco dias da semana (cerca de oito quilómetros).

 

Nesta minha divagação pela internet também encontrei muitas audiências da Congressista Alexandria Ocasio-Cortez. A que mais me perturbou foi a famosa audiência com Mark Zuckerberg na qual o interroga sobre a (não) verificação de factos do Facebook e o uso não consentido da imagem para reconhecimento facial. Durante o inquérito AOC, coloca vários cenários hipotéticos até que chegam à conclusão que o Facebook não assume a responsabilidade pelo que é publicado na rede social, não verifica os factos, nem retira mentiras.

 

Há um ano e meio, a 10 de Abril de 2019, foi revelada a primeira imagem de um buraco negro. Embora pareça apenas um anel desfocado, é de grande importância, porque a sua enorme capacidade de sugar tudo o que está à sua volta é indiscutível. Assim é a internet, um enorme buraco negro, que nos leva a descobrir coisas maravilhosas e terríveis.

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