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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

20
Dez20

O melhor de 2020

 

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2020 não foi o ano que muitos de nós esperávamos. Quem podia prever uma pandemia (além do Bill Gates)? Quem podia prever que íamos passar quase 3/4 do ano confinados às nossas casas, às nossas famílias (se tivermos sorte), aos nossos pensamentos e sentimentos, ao nosso corpo e às suas constantes necessidades?


Mas 2020 foi também o ano de “cortar a gordura” (só metaforicamente como a balança constantemente me relembra) e ficar com o fillet mignon.

 

Para muitos, significou desapegar-se de bens materiais, fazer limpezas enormes, arrumar aquela “gaveta das pilhas”, começar a reciclar.

 

Para outros foram decisões mais saudáveis como cortar na carne, fazer mais exercício físico, dar passeios, nadar no mar, correr, fazer yoga.

Mas há ainda quem tenha tomado grandes decisões: restringir o ciclo de pessoas essenciais, o que levou a divórcios, conflitos familiares, tensões entre amigos.

 

Sobretudo, o que 2020 nos mostrou é que podemos e devemos viver de acordo com os nossos valores e quem está mal, não faz falta.

 

Porque em 2020 aconteceram muitas coisas boas: perante um evento completamente inesperado e assustador, tivemos de aprender a viver de uma forma diferente.

 

Tivemos a oportunidade de viver com menos coisas, mas com maior intimidade.

 

Pudemos conhecer os nossos vizinhos e dar uma mão amiga, nem que fosse só um bom dia atrás da porta.

 

Quando as coisas se tornaram mesmo assustadoras, com um simples gesto como bater palmas, pudemos agradecer aos nossos trabalhadores essenciais o acto heróico que escolhem prestar todos os dias.

 

Aprendemos a cozinhar novos pratos ou a fazer bolos ou bolachas, muitos aprenderam a fazer pão. Lemos tanto e livros tão bons que fizemos a boa e velha troca de livros sem covid nem nada!

 

Vimos séries e filmes que nunca teríamos visto, sacudimos a poeira dos jogos de tabuleiro da nossa infância. Alguns de nós tiveram melhor perder, outros nem tanto.

 

Ligamos a amigos, vimos as brincadeiras dos filhos através do telefone. Experimentámos novas danças, máscaras ou receitas de apps claramente feitas para audiências mais novas. Vimos Tios e Tias usarem poderes mágicos para se ligarem ao zoom para cantarmos os parabéns, rimos do ridículo destes tempos.

 

Perdemos amigos, familiares, conhecidos. Vimos tantas notícias que o nosso cérebro ficou em papa. Mas vimos também eleições Estados Unidos com um sentido de esperança no profundo azul do olhar de Joe Biden.

 

Todos os anos o meu desejo é o seguinte: “comer metade, andar o dobro e rir o triplo” (provérbio chinês). Se possível, abraçar mais tanto melhor. 

O melhor de 2020, para mim, foi escrever aqui n'O espaço das pequenas coisas e ter tantas pessoas a  caminhar comigo. Tem sido uma honra. Obrigada e até 2021!

 

 

16
Dez20

Kit de Sobrevivência XIII - Gabriel García Márquez

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O amor nos tempos de covid

 

Quando era adolescente, a Mãe frequentemente murmurava “todas as discussões começam por causa de um sabonete”. Na altura, não reconhecia como a Mãe era cool, com o seu pilates tão à frente do seu tempo, com as jóias da sua Avó, com as suas mãos de Mãe sempre prontas a sossegar os meus medos, mesmo quando a minha adolescência a rejeitava.

 

Aos 22 anos, finalmente, decidi ler “O amor nos tempos de cólera” de Gabriel Garcia Márquez e percebi porque “todas as discussões começam por causa de um sabonete”, pela mesquinhez, pelas pequenas coisas que reabrem velhas feridas. Naquele momento decidi que se algum dia tivesse a sorte de encontrar um amor tão grande como Florentino e Fermina ou Jim e Pam (versão moderna da série “The Office”), lutaria por esse amor com toda a minha energia até a completa exaustão.

 

Felizmente, alguns anos mais tarde, tive a sorte de encontrar um Príncipe Encantado. Desde o início soube que a nossa história seria daquelas dos filmes, mas quem podia imaginar tudo o que passámos?

 

Depois o covid obrigou-nos a mudanças radicais. De repente, tivemos que vir para casa, trabalhar a partir de casa, viver 24/7, cozinhar juntos, planear as refeições, compras e limpeza. Pela primeira vez, tivemos que nos olhar sem a correria do dia-a-dia, sem o ruído do trabalho, sem artefactos, observar o verdadeiro estado da nossa relação e decidir como viver este tempo.

 

Felizmente, temos o mesmo sentido de humor e conseguimos criar um plano, tivemos o apoio da nossa família e amigos, o amor mútuo. Durante estes meses só nos abraçamos mutuamente, o que nas nossas famílias alargadas é muito estranho. Começamos a jogar damas, xadrez, sobe e desce, glória e todo o tipo de jogos de tabuleiro e inevitavelmente o meu Príncipe ganha (tenho de estar mais atenta às minhas damas!).

 

Ultimamente temos feito da sexta-feira uma “date night” surpresa, cada um organiza à vez. O mais importante é nunca desistir. Quando se encontra um obstáculo, é importante manter uma visão comum, nem que demore 53 anos até atingi-la. O amor vale sempre a pena.

13
Dez20

Bloqueio de escritor

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Há algumas semanas que ando com o que se chama na gíria de “bloqueio de escritor”.


Comecei a senti-lo depois das eleições nos eleições nos EUA. Investi tanto nesse período, durante dias lia, via e consumia tudo o que fosse sobre Kamala Harris, Joe Biden, Jill Biden, sondagens, estados, história e, sinceramente, senti-me realizada.


Senti que podia falar confortavelmente sobre o assunto e, mais importante, senti que podia escrever sobre o assunto com algum grau de segurança.


Depois, tal como Tal Ben-Shahar, descreveu no seu livro “Happier”, senti um enorme vazio no lugar daquela excitação toda do dia-a-dia de me preparar como se de uma jornalista me tratasse.


“Escreve sobre a tua vida” sugeriu o meu Príncipe. O espaço das pequenas coisas não é uma coluna de mexericos, nem um muro das lamentações, nem uma festa da aniversário. É mesmo assim: um espaço de pequenas coisas.


Então comecei a pensar nas pequenas coisas que me têm feito aguentar esta pandemia: acordar e tomar o pequeno-almoço com o meu príncipe e poder ouvir partilhar algum sonho ou simplesmente estar em silêncio, ouvir o meu podcast preferido “Office Ladies” enquanto lavo a loiça do almoço, cozinhar uma receita nova e inventar em algum passo, ler durante horas as crónicas de outros e esperar que, com isso, me inspire também, ver séries e filmes, caminhar muito, o ar fresco da manhã, fazer yoga e pilates, ouvir música na nossa coluna nova, almoçar com os meus Pais e provar as receitas novas da minha Mãe que ela também aldrabou um passinho, ouvir o meu Pai a contar a mesma história, ficar fascinada com a forma e as histórias que o meu irmão conta, correr atrás do nosso gatinho, ser mordida e arranhada, repreende-lo, ser mordida outra vez.


Todas estas pequenas coisas e muitas mais têm afinal tornado os meus dias, dias felizes, dias completos, dias bons. E começo a pensar que este “bloqueio de escritor” talvez esteja só na minha altíssima expectativa que estabeleci para mim própria e o melhor será continuar e desfrutar da viagem porque, afinal, a vida é tão boa.

09
Dez20

Kit de Sobrevivência XII - Rumi

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Lembro-me de estar no ciclo e a Professora de Educação Cívica dizer que podíamos escolher o tema do trabalho. Não sei bem porquê mas escolhi investigar sobre a ovelha Dolly.


Tínhamos virado o século, o mundo não tinha acabado e, aos meus olhos, a clonagem parecia algo incrível. Mesmo aos 11 anos, já tinha viajado o suficiente para perceber que não existem duas pessoas iguais.


Comecei por ler todo o processo científico, tanto quanto percebia na altura, sobre como os cientistas conseguiram “copiar” o ADN e criar a ovelha Dolly em 1996.


Talvez o aspeto que mais me fascinasse em Dolly fosse o facto de ser completamente igual a outro ser, sem haver possibilidade de desentendimentos, percalços, enganos ou dor. Ainda assim, Dolly teve um envelhecimento precoce que levou à sua morte inglória, mas deixou um legado (também deixou as suas crias) mas um passo gigante para Humanidade.


Para uma pré-adolescente impressionável, era um admirável mundo novo, no qual uma pessoa nunca caminharia só.

06
Dez20

As perdas que (não) partilhamos

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Fotografia de Paul Cupido,  courtesia da Danziger Gallery retirado do artigo "The Losses we share" no The New York Times

 

Foi com profunda tristeza que li a crónica de Meghan, Duque de Sussex no New York Times sobre a perda do seu segundo filho, em Julho deste ano. No ensaio, Meghan explica que, enquanto mudava a fralda do seu filho de um ano e meio, sentiu uma dor lancinante, caindo ao chão com o filho no colo, deixando-se ali ficar, cantando uma música de embalar numa tentativa de se acalmar a si e ao filho.

 

Esta descrição emocionou-me profundamente, especialmente quando vi os números ali, preto no branco: numa sala de 100 mulheres, 10 a 20 mulheres sofrem um aborto espontâneo. Se pensar no meu círculo mais íntimo, mais de 10 mulheres sofreram a perda de um filho. É uma dor inimaginável, um vazio terrível, um sentimento de culpa inexplicável. A maior parte das mulheres não fala sobre o assunto, talvez por medo, culpa, dor ou pelo vazio. Mas também por vergonha, como se de alguma forma, sentissem que são culpadas dessa perda.

 

Outro aspeto comovente nesta crónica foi a inclusão da dor partilhada com o marido/pai. A inclusão da figura do Príncipe Harry permite abrir a discussão sobre o luto que os pais também têm de processar, apesar de não experienciarem a perda no seu corpo. A família que espera ansiosamente a chegada de um/a irmã/o, neto/a, sobrinho/a, primo/a, afilhado/a. É nesta altura que a Duquesa de Sussex, se questiona sobre como se ultrapassam as perdas que partilhamos.

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