Bloqueio de escritor
Há algumas semanas que ando com o que se chama na gíria de “bloqueio de escritor”.
Comecei a senti-lo depois das eleições nos eleições nos EUA. Investi tanto nesse período, durante dias lia, via e consumia tudo o que fosse sobre Kamala Harris, Joe Biden, Jill Biden, sondagens, estados, história e, sinceramente, senti-me realizada.
Senti que podia falar confortavelmente sobre o assunto e, mais importante, senti que podia escrever sobre o assunto com algum grau de segurança.
Depois, tal como Tal Ben-Shahar, descreveu no seu livro “Happier”, senti um enorme vazio no lugar daquela excitação toda do dia-a-dia de me preparar como se de uma jornalista me tratasse.
“Escreve sobre a tua vida” sugeriu o meu Príncipe. O espaço das pequenas coisas não é uma coluna de mexericos, nem um muro das lamentações, nem uma festa da aniversário. É mesmo assim: um espaço de pequenas coisas.
Então comecei a pensar nas pequenas coisas que me têm feito aguentar esta pandemia: acordar e tomar o pequeno-almoço com o meu príncipe e poder ouvir partilhar algum sonho ou simplesmente estar em silêncio, ouvir o meu podcast preferido “Office Ladies” enquanto lavo a loiça do almoço, cozinhar uma receita nova e inventar em algum passo, ler durante horas as crónicas de outros e esperar que, com isso, me inspire também, ver séries e filmes, caminhar muito, o ar fresco da manhã, fazer yoga e pilates, ouvir música na nossa coluna nova, almoçar com os meus Pais e provar as receitas novas da minha Mãe que ela também aldrabou um passinho, ouvir o meu Pai a contar a mesma história, ficar fascinada com a forma e as histórias que o meu irmão conta, correr atrás do nosso gatinho, ser mordida e arranhada, repreende-lo, ser mordida outra vez.
Todas estas pequenas coisas e muitas mais têm afinal tornado os meus dias, dias felizes, dias completos, dias bons. E começo a pensar que este “bloqueio de escritor” talvez esteja só na minha altíssima expectativa que estabeleci para mim própria e o melhor será continuar e desfrutar da viagem porque, afinal, a vida é tão boa.