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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

31
Jan21

A minha Avó pede desculpa

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Esta semana acabei de ler o meu primeiro livro de 2021. Bem sei que já vou tarde, mas com este covid a minha atenção está um pouco dispersa e concentrar-me torna-se mais difícil.


Contudo, devo dizer que desde que recebi o Kindle, no Natal, sinto-me muito mais estimulada para a leitura porque simplesmente posso levar o Kindle para todo o lado, i.e., do quarto para a sala, da sala para o escritório e do escritório para o quarto.


O primeiro livro de 2021 foi um feliz acaso. Andava à procura de livros para oferecer à minha Mãe e deparei-me com este livro animador, sonhador e nostálgico chamado “A minha Avó pede desculpa” de Frederik Backamn.


Elsa tem 7 anos e vive com a Mãe, grávida do seu irmão “Meinho” e o Padrasto George. No apartamento em frente vive a Avozinha, a sua melhor amiga e as duas vivem todo o tipo de aventuras na Terra-de-Quase-Acordar.


Mas é quando a Avozinha morre que Elsa embarca na maior aventura de todas: uma caça ao tesouro para descobrir quem era afinal a sua Avó.


Esta história tão bonita e comovente, que oscila entre os contos de fadas e algumas realidades tão duras, relembra o papel dos Avós na vida dos netos, a importância de continuar a sonhar e o superpoder de ser diferente.


Ao ler este livro surgiram muitas memórias da minha Avó a brincar às escondidas, da minha Avó a dar-nos doces quando a minha Mãe tinha proibido, da minha Avó a pintar. A minha Avó parecia sempre feliz.


Às vezes dizem-me que pareço com ela: no cabelo, na vaidade (que o meu Avô considerava necessária, desde que com moderação), no amor pela Arte e numa certa abertura ao mundo e a novas ideias.


Ter Avós é um pouco como ter um superpoder, uma memória para a vida de como é ser amado incondicionalmente.

27
Jan21

Kit de Sobrevivência XVII - Afonso Cruz

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“Perder o lugar

A classe média envenenou-se num sofá de passividade sedentária. Receamos mais perder o nosso lugar no sofá, especialmente o que fica mesmo em frente à televisão, do que perder a liberdade ou a dignidade, que nos são subtraídas quotidianamente sob a aparência de novas leis económicas.” Afonso Cruz in “Jalan jalan: uma leitura do mundo”

 

 

Numas eleições profundamente marcadas pela pandemia, com uma taxa de abstenção de 60,51% lembrei-me deste texto de Afonso Cruz a propósito da apatia cívica que se vive no nosso país. Como disse Ricardo Araújo Pereira, não é falta de interesse na política, já que os programas onde se discute política como “Isto é gozar com quem trabalha”, “Governo Sombra”, “Circulatura do Quadrado” são dos programas com maior audiência, segundo o próprio conta.

 

Então porque não vão os portugueses às urnas? Quem são estes portugueses? Talvez alguns estejam descontentes com “o sistema”, o que é compreensível com sucessivos escândalos: crimes à vista de todos e onde a maioria sai impune, favores a amigos, cunhas entre familiares, fugas de informação em casos judiciais para os jornalistas. Onde está a Democracia? Aquela iniciada pelos gregos na qual os cidadãos livres atenienses, filhos de Mãe e Pai atenienses, maiores de 21 anos e que tivessem cumprido o serviço militar podiam participar na vida política? Será que evoluímos tão pouco em 2500 anos que a democracia continua a ser válida para uns e a excluir outros?

 

Naturalmente, o dado mais preocupante da noite foram os 490 mil cidadãos que votaram num candidato de extrema-direita populista. Mais do que lamentar ou criticar, é necessário focar a nossa atenção para estes cidadãos, perceber quem são, compreender as suas razões e agir sobre elas. Alguns dados preliminares recolhidos pelo Público mostram-nos que a distribuição da votação no dito candidato foi relativamente espalhada por todo o país, à exceção do Porto.

 

Sobre o Porto gostaria de fazer uma nota. Desde 1832, no Cerco do Porto, que a Cidade Invicta se apresenta como a grande defensora da Democracia em Portugal. A primeira tentativa de implantação de um regime republicano ocorreu no Porto a 31 de Janeiro de 1891 que daria lugar à efetiva implantação da república a 5 de Outubro de 1910, em Lisboa. Além disso, nunca podemos esquecer o Grupo dos Democratas Independentes Porto que lutou, durante as décadas de 50, 60 e 70 pela democracia portuguesa, organizando a candidatura do General Humberto Delgado em 1958.

 

Com isto não quero dizer que o partido seja ilegal como ouvi Ana Gomes e Marisa Matias reclamar nos debates presidenciais. Um partido legalizado pelo Tribunal Constitucional é legal e tem o direito a existir, a ser multado quando comete crimes seja de discriminação, incitação ao ódio e à violência, corrupção ou outros. E não cabe ao Presidente imiscuir-se nos assuntos do Tribunal Constitucional já que a Democracia prevê a priori independência entre poderes.

 

Assim, não olhemos com passividade para os resultados e não nos entreguemos a justificações fáceis. Procuremos a verdade, cuidemos dos nossos cidadãos, ouçamos as suas dificuldades e sejamos mais tolerantes. A favor da democracia, sempre.

24
Jan21

A Democracia prevaleceu

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Fotografia: Getty Images

 

No seu discurso da Inauguração, Joe Biden vaticina: “a democracia prevaleceu”. Parece um contrassenso, vaticinar no pretérito perfeito, mas, há apenas duas semanas, o mesmo edifício onde decorreu a Inauguração foi invadido num acto de terrorismo doméstico. Assim, e apesar de sentir uma enorme onda de esperança lá, do outro lado do Atlântico, só posso considerar como uma profecia que a Democracia prevaleceu.

 

Decidi investigar mais a fundo os eventos de 6 de Janeiro, consultei um projeto de uma ONG que está a recolher todos os vídeos desse ataque. No link é possível ter uma visão cronológica dos eventos, desde os protestos no comício de Donald Trump em Washington DC até aos momentos chocantes dentro do Capitólio. São horas de clipes de vídeos, alguns de poucos segundos, outros de alguns minutos, mas em todos é possível observar o tom crescente da raiva gritante. Também é possível distinguir diferentes grupos de pessoas: grupos organizados com uma missão e conhecimento do edifício claros, gangues armados com o objetivo de destruir o máximo de coisas possíveis e pessoas comuns zangadas com o sistema se viram envolvidas numa ação de terrorismo doméstico.

 

Fiquei muito tempo a ver estes vídeos, a olhar para estas pessoas e a interrogar-me se nem por um momento elas terão pensado na Instituição onde estavam a entrar ou no atentado à Democracia que estavam a cometer.

 

O meu irmão contou-me que nos jogos de futebol, há um efeito de grupo, as pessoas comportam-se de forma irracional, dizem coisas que nunca diriam fora do estádio, algumas insultam o árbitro, fazem ameaças, até atiram coisas ao campo. Lembrei-me do que o meu irmão disse, talvez estas pessoas normais zangadas com o sistema tenham sido apanhadas pelo poder de grupo e assim vão ser condenadas por terrorismo doméstico.

 

Por isso volto ao discurso de Joe Biden, a Democracia não é garantida. Temos de lutar por ela todos os dias, em particular hoje. Votem em segurança. Mas votem.  

20
Jan21

Kit de Sobrevivência XVI - Martin Luther King Jr

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A Terra Prometida, finalmente

 

Hoje acordei com esperança. Sim, os números de novos casos e mortes de covid em Portugal são os mais elevados do mundo. Sim, fiquei chocada com o comportamento das pessoas na orla marítima durante o fim-de-semana. Sim, desespero pelo nosso Serviço Nacional de Saúde, pelos nossos profissionais de saúde, os trabalhadores na linha da frente, os que perderam o seu emprego.

 

Mas hoje, meu caro leitor, acordei com esperança. Porque a partir de hoje, os Estados Unidos da América, país líder mundial da democracia (ou assim ainda esperamos), tem um novo Presidente em Joseph R Biden Jr. Hoje o mundo fica um pouco melhor, um pouco mais em paz, um pouco mais tranquilo, um pouco mais seguro, um pouco mais bonito.

 

Joe Biden é um homem de fé, capaz de através da sua história inspirar milhões de pessoas. Um homem que ultrapassou tanta adversidade, desde a gaguez na infância à impensável perda do seu filho mais velho, depois da perda da primeira mulher e filha. Joe Biden não é um privilegiado pintado de cor-de-laranja, fez 300km de comboio entre Washington DC e Delaware, entre o chamamento de Senador e a família. Teve a coragem de arriscar de novo no amor e saiu a ganhar com Jill Biden, Professora dedicada às famílias militares e à Educação.

 

Hoje acordei com esperança, porque se há alguém que consegue sarar feridas, unir as diferenças, incentivar a escuta e o perdão é o clã Biden. E não estão sozinhos, têm a extraordinária Kamala Harris (ver “Kit de Sobrevivência XVIII - Kamala Harris”) empenhada na luta pela igualdade de género, na reforma do sistema judicial enviesado pelo profundo racismo, na mobilidade social pelas famílias de etnias não-caucasiana, num sistema de saúde universal.

 

Talvez Joe Biden e Kamala Harris possam mesmo encaminhar os Estados Unidos para o seu destino de Terra Prometida. Até que enfim.

17
Jan21

Dança das cadeiras

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Esta semana descobri mais maravilhas da tecnologia. Ao contrário do meu Príncipe que, a cada Natal tem gadgets tão específicos como headphones para correr que são muito diferentes dos headphones para trabalhar e dos headphones para ouvir um podcast/música ao adormecer, eu não sou nada “geek”.

Também não sou tipo a minha Mãe que até há seis meses não sabia ligar a televisão (mas agora até já sabe ligar a Netflix!). Até já mudei dos livros para o Kindle porque os preços dos ebooks são muitíssimo mais baixos.


Quando anunciaram o Confinamento II fiquei muito desanimada, pelo que me refugiei na música.

 

Ao navegar no Spotify descobri uma categoria “Party like it’s...” onde podemos escolher o ano. Fiz as contas, procurei lembrar-me do ano em que comecei a sair à noite, a sensação de antecipação, de um “perigo” bom ao contrário deste perigo horrível que vivemos. Lembrei-me do ano 2005, quando já saía mais regularmente e decidi escolher a playlist.

Imediatamente a voz da Madonna invadiu os meus headphones (do trabalho) e dou por mim a sentir-me um pouco melhor “waiting for your call baby night and day...”. Depois vem Juanes com Shakira numa das minhas “party songs” preferidas “Ay, amor, me duele tanto/ me duele tanto/ que te fueras sin decir a dónde/ ay, amor, fue una tortura perderte”. Depois um som mais pop com as Sugarbabes “If you're ready for me boy/ You'd better push the button and let me know”.

Sinto uma alegriazinha apoderar-se de mim, sorrio e mexo-me na cadeira numa espécie de dança. Mas, de repente, um pensamento cruza a minha «party like it’s 2005: “mas quem era esta pessoa?”»

 

Passaram tantos anos. Na altura parecia-me que andava sempre preocupada com a escola, as amigas, os namorados, a minha identidade. Hoje sinto-me tão distante dessa miúda cheia de potencial. Hoje sou uma mulher, não posso esquecer esta pandemia com uma vodka cola ou duas e uns saltos na pista de dança. Até a minha dança ficou confinada à minha cadeira!

 

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