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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

28
Fev21

S.O.S. Racismo!

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Há umas semanas quando saiu a reportagem da SIC “A Grande Desilusão” escrevi uma crónica sobre a proliferação da extrema-direita em Portugal. Não a publiquei porque, depois de ver a segunda parte da dita reportagem, tive medo.


Percebi que algumas das pessoas envolvidas no partido de extrema-direita português pertencem realmente a grupos organizados que cometem crimes de intimidação, tentativa de homicídio, crimes de ódio e atentado à integridade pessoal.

 

Esta semana passou no programa do James Corden “Late Late Show”, em estilo divertido americano uma entrevista com o Príncipe Harry, no qual explica porque saiu do Reino Unido. Quando James Corden lhe pergunta sobre a série “The Crown”, Harry responde que não tem nenhum problema com uma série baseada num período histórico, o seu desagrado começa quando alegados jornalistas publicam incessantemente histórias fabricadas para alimentar uma narrativa racista contra Meghan Markle, sem que a máquina do Palácio a proteja. E foi por isso que saíram da “Família Real”, não da família.

 

Também nesta semana, uma Professora minha, das pessoas com quem mais aprendi durante a minha vida académica, viu-se envolvida numa polémica por ter dito a seguinte frase “Cientificamente, não existe racismo de negros contra brancos”. Pessoalmente, penso que poderia ter sido dito de outra forma, apenas por ser fácil descontextualizar e banalizar o conhecimento científico em Psicologia.


O que penso que a minha Professora queria dizer, é que o racismo é um sistema, profundamente enraizado na nossa cultura e que historicamente beneficia os brancos em detrimento dos não brancos, particularmente dos negros. Pela nossa história, por termos sido mestres e termos não só escravizado negros, mas forçado a sua ida para a América em condições miseráveis, nós, portugueses brancos, somos o sistema.


Não sei qual será a utilidade de agora olhar 500 anos para trás à procura de respostas, mas não me cabe a mim fazer esse juízo de valor. O meu desejo seria manter a história e enriquece-la com mais factos sobre as conquistas dos negros e, particularmente das mulheres negras..


E, doravante, pensar e agir, sobre como podemos elevar os nossos irmãos negros? Especialmente as mulheres que são, segundo as sondagens da ONU, as mais desfavorecidas no mundo. Por um mundo sem medo, mais justo, mais igual.

24
Fev21

Kit de Sobrevivência XXI - Walt Whitman

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Ultimamente tenho-me debatido com o que escrever, caro leitor. Se escrevo para mim, parece egoísta e narcisista; se escrevo para si, quem quer que o leitor seja, estou a adivinhar as suas expectativas, crenças e valores e, portanto, a comprometer os meus.


Talvez por ter sido operada, por me ter sido retirada uma parte de mim e oferecida uma parte da ciência, ultimamente tenho dificuldade em encontrar consistência na minha escrita, em encontrar a minha personalidade, como se este troca de partes alterasse o equilíbrio que conhecia.


Quando tenho estes períodos não há nada a fazer, a não ser ficar em silêncio. Resguardar-me do mundo, procurar além do silêncio na imensa escuridão e incerteza. Meditar e ouvir o meu coração.


Esta semana dei por mim a pensar na solidão que muitas pessoas estão a viver nesta altura. Não é preciso passar 40 dias e 40 noites num deserto para se sentirem particularmente sós, porque muitas pessoas viram as suas vidas despidas de trabalho, família e, muitas vezes, alegria. Por isso a Quaresma, por si só, um período de sacrifício, tornou-se quase um mês como os outros - um mês de abstinência, de ausência.

 

Talvez por esse motivo este decidi dedicar este período à presença consciente, à entreajuda, à minha comunidade. Não é muito, eu sei, pode parecer até superficial à partida. Mas servir sempre foi a maneira que encontrei para me encontrar a mim mesma. No confronto e conforto do outro, encontro-me a mim mesma. E, quem sabe, as minhas crónicas ganhem coerência novamente.

 

21
Fev21

Prefiro ser feliz a ter razão

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Há umas semanas, pela altura das eleições, dei por mim a ter uma discussão acesa com um grande amigo.


Ele defendia uma ideia que me parecia absurda, ridícula, completamente desligada da realidade, do nosso país como um todo, do mundo inteiro, de tudo o que possa existir.


Para defender o seu ponto, recorria a argumentos populistas e informações com graves lacunas, estatísticas manipularas, tudo valia. Eu, em contrapartida, apelava ao bom senso, refutava os argumentos com novas informações de organismos oficiais, história, ciência política, epistemologia. Quando dei conta, tinha passado uma hora.


De repente, dei por mim a perguntar “porque é que isto é tão importante para mim? Porque é que ter razão neste ponto é tão importante para mim? Porque é que ter razão é tão importante para mim?”. Parei por um momento, reflecti, desatei a rir! Pela primeira vez em muitos anos tinha alguém com quem discutir política como discutia com o meu Avô (não exatamente, mas era melhor do que nada).


Decidi que neste caso em particular, como em muitas discussões com o meu Avô, o melhor era deixar o meu amigo Francisco ganhar porque ele é divertido nas férias, é Gémeos como eu, tem um filho que é um amor e uma mulher espetacular com quem partilho tanto.


Talvez uma discussão não seja assim tão importante, talvez o melhor seja preservar a nossa amizade. E, como a minha Mãe me ensinou quando era uma jovem adulta: “prefiro ser feliz a ter razão”. Sempre gostei deste conselho, nem sempre é fácil segui-lo!

17
Fev21

Kit de Sobrevivência XX - Francis Bacon

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Esta semana conversava com uma amiga muito querida que me perguntou o que faço para o meu desenvolvimento e crescimento.


Expliquei-lhe que o desenvolvimento pessoal provém da consistência do que fazemos, ou seja, de um conjunto de hábitos, melhor dizendo, de uma rotina.


Para mim, disse-lhe, é muito importante dormir entre 8h e 8h30 porque demoro muito tempo a adormecer e às vezes acordo durante a noite. Apesar de não ser uma opinião jovem e popular, os estudos mais recentes têm demonstrado que dormir menos do que 7h agiliza o envelhecimento e aumenta a probabilidade de desenvolver doenças como diabetes e cancro.


Mal acordo verifico se o meu Príncipe está a dormir. Quase sempre ele abraça-me e este gesto de manhã é uma parte fundamental do meu dia porque evoca sentimentos de amor e pertença. Apesar de não falarmos muito, tomamos o pequeno-almoço juntos, comentando alguma notícia do dia ou algum evento da nossa família.


Depois, é tempo de me arranjar. Para mim, é fundamental tomar duche de manhã, vestir-me e fazer a minha rotina de pele. Desde o covid nunca uso muita maquilhagem, só o suficiente para me sentir “acordada”. Faço a cama e arrumo as canecas do chá da noite e começo o meu dia.


A parte essencial da minha rotina, disse à minha amiga, é à noite, quando escrevo 3 coisas boas, pequenas ou grandes, que aconteceram nesse dia. Geralmente são pequenas coisas como o risotto de cogumelos do almoço ou a almofada ainda estar fresca de manhã ou ter encontrado um cabo dos headphones que pensava estar perdido.


Ao fim de anos a escrever um “diário da gratidão”, é fácil encontrar coisas boas, torna-se natural encontrar o sentido de humor nas situações mais difíceis.


O último hábito que recomendei à minha querida amiga foi começar a meditar. A meditação altera a nossa estrutura cerebral, tornando-nos pró-activos em vez de reativos às situações do dia-a-dia, aprendemos a gerir melhor as emoções e a controlar a ruminação de pensamentos.


Espero ter ajudado! - disse à minha amiga. Mas mal desliguei a chamada, percebi que, na verdade, ela é que me ajudou a perceber que, afinal, ainda há muito caminho a percorrer. As pequenas coisas têm de ser o centro da minha atenção porque é da soma delas que resulta uma vida feliz.

14
Fev21

Amor

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Quando pensamos em São Valentim, pensamos no amor das comédias românticas de Hollywood ou nos trágicos romances da literatura francesa do século XVIII. Porém, o amor surge nos momentos mais inesperados e frequentemente nem é um amor romântico.


Há umas semanas submeti-me a uma cirurgia programada ao ombro. Antes de entrar no hospital, tinha muito medo do que iria encontrar: uma dor aguda quase insuportável, desconforto, velhotas tagarelas que queriam ver a novela, profissionais de saúde em burnout.


Aqui, n’O espaço das pequenas coisas, também há espaço para me retratar, pois o que recebi durante os dias em que estive internada foi uma lição de humildade, respeito e amor.


No primeiro dia, fiquei num quarto amplo, renovado, com uma cama confortável para o meu ombro, um armário só para mim. Comigo esteve sempre uma senhora que bem podia ser sósia da minha Avó. Por isso, pelo menos durante esses dias, pude reencontrar-me com a minha Avó, relembrar os seus gestos, o quanto gostava de doces, a sua amabilidade sublime.


No dia da cirurgia, a médica anestesista ficou comigo à entrada do bloco operatório, explicando-me o processo, distraindo-me do que se passava, contando-me que tinha uma “máquina de ler sonhos”, adormecendo-me gentilmente. Como disse a minha querida sogra, embarquei numa viagem: “primeiro o Alentejo, depois o Algarve e quando deres conta já estás na caminha”.


E assim foi. Nunca tive dores agudas, os médicos, enfermeiros, assistentes operacionais, senhoras da limpeza, todos falavam com calma e amor, como se estivéssemos numa bolha sem covid.


Naquela nossa bolha, o Enfermeiro perguntou-me sobre o meu blog enquanto administrava a minha medicação, a Enfermeira comentava o meu cabelo enquanto verificava as minhas tensões, o Enfermeiro acenava-me durante a noite para que não me assustasse com as rondas.


Na nossa bolha, os doentes tornaram-se amigos, as doenças apenas parte de uma história maior e com o apoio uns dos outros fomos saindo da unidade: “Saio amanhã!”, “Eu só na Quinta!”, “Bem melhor do que eu, que só vou na Sexta!”.


Comentávamos as dietas uns dos outros, uma vez Patrícia disse-me: “não sou uma Santa mas também não sei que mal fizeste para comer isso!”, referindo-se à minha dieta vegetariana. Rimo-nos pois os meus nuggets tinham melhor aspeto do que a sua farinha de pau.


Todas as manhãs dizíamos “bom dia” com o máximo de alegria para animar toda a gente e todas as noites desejávamos “bons sonhos” depois do chá.


Havia casos de tudo, recuperações de sequelas de covid, problemas gastrointestinais, dificuldades respiratórias, infeções no ouvido. Alguns estavam cansados das suas longas batalhas, outros ainda tinham força para a longa recuperação. Em todo o caso, unimo-nos o mais que as normas covid permitiram para que ninguém sentisse que estava só.


Faltam-me palavras para expressar a minha gratidão a todos os profissionais de saúde daquela unidade hospitalar que foram incansáveis no seu cuidado e delicadeza ao tratar de mim. Pude ver de perto a dedicação e cuidado que dedicam a todos os pacientes e uns aos outros, porque afinal são uma equipa.


Neste ano, o São Valentim tem, para mim, outro significado. Significa o amor maior, o amor que cuida, que não julga, que apoia, que não desiste, que está sempre lá. O amor que só existe na vida real.

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