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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

08
Ago21

Dez coisas que animam o Verão

dez coisas que animam o verão.jpg

Há umas semanas li a crónica de Miguel Sousa Tavares para o Expresso com o título “ “Dez Coisas que Estragam o Verão”. Sempre gostei de Miguel Sousa Tavares, talvez mais pela sua ascendência do que pela sua escrita, mas, de alguma forma, personificava uma inquietação e descontentamento necessários ao espaço público.

Como me considero mais otimista, decidi apontar algumas alegrias deste Verão.

 

1.Jogos Olímpicos. São sempre motivo de grande emoção, mesmo quando os atletas não avivam o espírito empreendedor português com medalhas, a simples viagem já é motivo de orgulho. As provas, as incertezas, a vitória no último minuto. Destaque, claro, para os já galardoados Pedro Pichardo (medalha de ouro) e Patrícia Mamona (medalha de prata) que voaram no triplo salto. Na canoagem, desporto sempre prometedor, destaque para o campeão mundial de K1 1000m e K1 5000m, Fernando Pimenta (medalha de bronze). Por último, numa manobra final inesquecível Jorge Fonseca (judo) vence a medalha de bronze.

2.Tour de France/Volta a Portugal. Não tão entusiasmante como os jogos olímpicos, as provas de ciclismo geram sempre uma legião de fãs e não é por acaso – são autênticas provas de superação.

3.Regresso do campeonato de futebol português. Quer sejamos adeptos ou não, a verdade é que o futebol é desporto de mobilizador de vários milhões – de euros e de pessoas. E por falar em euros, o Euro 2020, bem menos emocionante do que o Euro 2016, trouxe algum ânimo aos europeus.

4.Bom almoço/bom jantar. Com 70% da população vacinada com a primeira dose, podemos respirar um pouco melhor sob as essenciais máscaras cirúrgicas. Também é uma boa altura para regressar ao nosso restaurante preferido ou, quem sabe, experimentar um sítio novo. Descobrir pequenos tesouros é também um dos meus hobbies.

5.Rever amigos. Com o auto-teste de fácil acesso e grande parte da população vacinada, o Verão é uma altura para encontrar amigos em esplanadas, à beira-mar, num passeio na montanha, ao ar livre e com todo o cuidado. É altura de treinar as nossas competências sociais e encontrar algum conforto nos nossos.

6.Viajar. Esta é um momento singular na história mundial e, percebê-lo através dos olhos de outros povos pode ser uma experiência única e interessante. Claro que o risco é maior, mas também é possível “viajar cá dentro”, conhecer novos sítios em Portugal ou ser turista na própria cidade.

7.Mergulhos no mar. É verdade que o mar português, ou, por outra, o Oceano Atlântico não é conhecido pela sua temperatura amena. No entanto, não há nada melhor do que fazer-se às ondas, refrescar as ideias, renovar o espírito. A comunhão com a Mãe Natureza tem benefícios comprovados.

8.Ler. Verão, para mim, é sinónimo de tempo de leitura. Seja na praia, no parque ou nas longas manhãs na cama, ler bons livros é sempre um dos meus objetivos para o Verão. Estou a ler “Eliete” de Maria Dulce Cardoso e é uma delícia, a sua escrita, a sua descrição minuciosa, é uma lufada de ar fresco na literatura feminina portuguesa.

9.Vitamina D. Apesar de sermos um dos países com mais horas de Sol na Europa, a verdade é que a maior parte da população portuguesa tem défice de vitamina D. Gosto de aproveitar o Verão para fazer muitas caminhadas e apanhar Sol (sempre com protetor solar 50 e chapéu).

10.Traçar novos objetivos. As férias são sempre uma boa altura para refletir sobre a nossa vida. Como somos obrigados a parar o corre-corre, abre-se uma janela de oportunidade para pensar no que podemos fazer diferente para ser mais felizes.

 

E assim, entramos em pausa para "retiro espiritual". Voltamos Domingo, 4 de Setembro às 9h, aqui, n'O Espaço das Pequenas Coisas.

01
Ago21

E depois do Adeus

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Fotografia: Rui Ochôa para Expresso

Há uma semana deixou-nos Otelo Saraiva de Carvalho e, com ele, mais uma peça do ideal da revolução.

 

Houve quem escrevesse que o cérebro por detrás do 25 de Abril não tinha ideais ou que estes mudavam consoante o vento, houve até quem tenha achado que seria apropriado, no próprio dia, dar voz aos opositores do Capitão de Abril. Por fim, encontrei algum consolo nas palavras de Manuel Alegre na crónica do Público a pedir o dia de luto nacional. A morte de Otelo foi tão significativa que mereceu destaque internacional.

 

É difícil compreender a contestação gerada, inflamada pelo próprio Presidente da República que afirmou: “é ainda cedo para a História o apreciar com a devida distância”. Sem Otelo, não havia 25 de Abril, não havia liberdade, não havia democracia. A revolução portuguesa é incontestavelmente das transições mais pacíficas do mundo, apenas com 4 mortes causadas pela própria PIDE. Uma revolução que foi levada a cabo por militares contra o seu comandante supremo.

 

Ao contrário de outros regimes, em Portugal, nunca houve julgamento de nenhum dos altos representantes do regime ditatorial: Salazar morreu, Marcello Caetano foi exilado no Brasil, os ministros perdoados (o que levou a que hoje tenhamos um Presidente da República filho do regime), os PIDES absolvidos e fez-se tábua rasa, um novo dia. As dezenas ou centenas de famílias dos torturados, desparecidos, mortos nunca viram julgamento, quanto mais justiça. Parece-me natural, e ainda assim condenável, que houve quem quisesse fazer justiça pelas próprias mãos. Assim nasceram as FP-25 pelas quais Otelo Saraiva de Carvalho foi julgado e cumpriu cinco anos de prisão.

 

No fim, a questão que se impõe é: com o desaparecimento de Otelo, o que acontece aos valores da revolução? Como o jornalista António Guerreiro explicou na sua crónica, com o desaparecimento dos “capitães de abril”, desaparecem também os ideais do 25 de abril: liberdade, democracia, igualdade. A sociedade ocidental é, hoje, muito mais homogénea e a violação das liberdades fundamentais é subliminar, através de Big Data, nepotismo e consumismo.  

 

Vídeo: António Zambujo para Rádio Comercial

 

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