Entreparedes
No livro de Afonso Cruz “Para onde vão os guarda-chuvas”, Fazal Elahi era dono de uma fábrica de tapetes e andava sempre a olhar para o chão, o seu maior desejo era desaparecer entre as paredes.
Convenci-me que me sentia assim, tão pouco interessante e útil, que o melhor seria ficar no meu canto, fundir-me com as paredes, remetida ao silêncio.
Há umas semanas alguém escreveu uma publicação sobre as pessoas que deixam de escrever nos seus espaços e também elas ficam em silêncio. O autor propunha várias explicações, desde desinteresse, falta de interação com os seus leitores, a ausências por motivos vários.
Naturalmente pensei, durante estes meses, escrever e publicar neste espaço. Mas acontecia que este espaço, apesar de conter coisas pequenas, parecia-me enorme! E depois, poderia ser desmascarada, deixar as paredes branco-primavera do meu espaço físico e o leitor descobrir que afinal havia palavras dentro de mim.