Abstenção
Há uns dias um leitor comentou uma das minhas crónicas sobre as legislativas apelando à minha reflexão sobre o sentido do voto.
De facto, para mim o voto é um direito constitucional conquistado com o sangue e a vida de muitos cidadãos. Como já escrevi em várias crónicas, venho de uma família investida na política, pelo que a minha abstenção não seria bem aceite.
Compreendo, no entanto, que o sistema democrático apresenta várias falhas, desde o processo de eleição dos candidatos de distrito, ao regime semi-presidencialista, ao fraco combate à corrupção na política. A abstenção não é só um problema português, vejam-se as eleições europeias.
A ausência de voto pode indicar desinteresse ou protesto. O sistema eleitoral tem muitas lacunas, é antiquado, pouco intuitivo, moroso, pouco acessível às populações. Além disso, a campanha eleitoral é excessiva, agressiva, disparatada por vezes (apesar de fornecer bom material para os comediantes).
Por outro lado, a abstenção também pode ser um protesto contra o status quo, contra as estruturas que se recusam a mudar ou mesmo porque a pessoa não se revê num programa político ou num partido. Frequentemente observo este fenómeno entre amigos.
Ainda assim, a beleza da liberdade reside em votar num partido, votar em branco ou não votar, seja por desinteresse ou protesto. Viva a Democracia.