De passagem
Há umas semanas escrevi uma crónica sobre a necessidade de mudar de perspetiva, por vezes literalmente numa viagem, afastando-me de outros e aproximando-me de mim mesma. Uma querida leitora comentou essa crónica indagando sobre a minha mudança de perspetiva. Na altura pensei n’O Espaço das Pequenas Coisas e no que representa para mim, é um espaço onde nos podemos perder em reflexões sobre nós próprios e o mundo mas não é um “querido diário” ou um espaço que termina em mim.
(Nada contra os diários que ainda hoje fazem parte da minha vida!)
Tenho andado muito com o novo disco de Adele 30, não só pelas letras e melodias, mas pela coerência com que expõe o que, para mim, significa ter 30 anos (mas que de todo se confina à idade). A primeira canção Strangers by Nature, Adele escreve, segundo a própria, uma carta a si própria, expondo a sua ambivalência em aceitar os erros que cometeu, a sua solidão. Ao mesmo tempo, há um tom de esperança no verso “I've never seen the sky this color before // It's like I'm noticing everythin' a little bit more” e no fim da canção quando a cantora expressa a esperança na gratidão. Embora já tenha escrito mais de 100 crónicas, a vulnerabilidade com que Adele escreve é muito comovente e ressoou em mim.
Em jeito de resposta à nossa querida leitora, o que mudou é que só falo com quem me apetece, só faço programas que me apeteçam e, acima de tudo, passo muito tempo a refletir sobre como posso continuar a crescer. Dou alguns passos nesse sentido, passos onde ainda consiga estar inteira e presente, já não me deixo desintegrar com comentários ou coisas que me aconteçam. No fundo, estou mais centrada, não só graças à meditação mas numa consciência (quase) permanente da nossa finitude e da preciosidade do nosso tempo.
OUVIR COM CALMA
Naturalmente o novo disco de Adele 30 mas na ordem cronológica, nada de shuffle. Na mesma onda, no podcast Human de Jess Mills, decorrem algumas conversas vulneráveis sobre o que nos torna humanos, luto e perda, amor e coragem, esperança.
VER NO SOFÁ
Uma das minhas séries preferidas de sempre, com o melhor argumento que alguma vez vi no pequeno ecrã O Método Kominsky (Netflix), explora a amizade e o envelhecimento, a morte e o luto, a finitude da vida, a esperança e claro, as pequenas coisas, como um Jack Daniels com uma Doctor Pepper.