Educação para a Cidadania: ninguém nasce ensinado
Nunca contei a minha história de cidadania activa, quando ainda se escrevia com as letras todas.
Aos 7 anos, eu e a minha melhor amiga adorávamos a Natureza (talvez até um pouco mais do que as pessoas). Passávamos o tempo a admirar os castanheiros e os pinheiros da escola, a ver as formigas e as suas colónias, a estudar os padrões de migrações dos pássaros. Por isso, não foi nenhuma surpresa quando fundámos o clube “Os Verdes da Terra”, uma associação destinada à proteção da Natureza. As tarefas práticas: apanhar o lixo e proteger animais feridos. Como o leitor poderá imaginar, recrutar novos membros revelou-se tarefa difícil, mesmo com os crachás (sim, os mesmos que mais tarde entrariam nas minhas brincadeiras da agente secreta JD).
No ano seguinte voltámos ao ataque. Decidimos criar o “Clube do Teatro” e a nossa primeira peça seria “O Príncipe do Egipto”, com p. Não me recordo exatamente de onde provinha esta nossa paixão pela história de Moisés, mas lembro-me que nem hesitámos quando chegou a altura de escolher a peça a encenar. De imediato, o nosso texto foi censurado, a produção banida e a associação encerrada. Em retrospectiva, esta reacção extrema da escola terá sido, porventura, a mais sensata, para não ferir susceptibilidades, mas na altura sofremos muito. Não obstante, ensinou-nos duas importantes lições de cidadania: persistência e tolerância.
No quarto ano, decidimos ser independentes. Criámos a nossa “empresa de produções” e escrevemos um “argumento original”. Demorou um ano. Eu seria a Miriam e a minha melhor amiga seria a Sefrina. Miriam e Sefrina. Nunca chegámos a gravar este filme mas eventualmente a Sefrina seguiu o seu caminho na escrita e a Miriam continua a escrever aqui.
Aos 19 anos aderi a uma associação para a promoção da cidadania ativa e por lá fiquei durante cinco anos. Durante o meu percurso participei e organizei alguns eventos sobre imigração, línguas, cultura, desenvolvimento pessoal e até dança. Fui para fora e fiz muitos amigos, alguns para a vida toda.
Todas estas experiências e outras que aqui não cabem foram possíveis porque cresci numa família onde as pessoas já eram cidadãs ativas, mas também porque desde muito cedo aprendi sobre reciclagem, a União Europeia, o sistema eleitoral na escola.
Educação para a Cidadania, mais do que “o que é”, podemos pensar naquilo que pode ser: um espaço de enorme potencial para aprender a pensar sobre a Natureza, Filosofia, Política, Sociologia, Economia. Na prática aprender: reciclar, gerir a mesada, poupar, higiene e segurança, participar ativamente na sociedade.
Ninguém nasce ensinado, é sempre bom aprender!