JD, agente secreta
Era pequena, devia ter uns cinco ou sete anos, a pessoa mais incrível da história da televisão, a minha heroína era a protagonista de uma série animada chamada JD. Joana Dias ou nome de código "JD" trabalhava nos serviços secretos britânicos, resolvendo casos ao mais alto nível.
Contrariamente a muitas personagens da época - entenda-se no mundo da Disney - JD não tinha nenhum príncipe ou parelha. Surpreendentemente, resolvia os casos recorrendo a gadgets gravados com o seu monograma: um espelho que permitia ver até 10 metros de distância, um batôm que disparava potentes tranquilizadores que aniquilavam o inimigo em 2 segundos e, claro, a sua aptidão imbatível nas artes marciais.
Em cada episódio, JD parecia ser a única capaz de resolver os mistérios mais obscuros. A cada episódio os desafios tornavam-se maiores especialmente com a pressão dos pais para que JD casasse. Inamovível, JD recusava o mundo luxuoso dos pais, preferindo passear no seu carro vermelho.
É curioso pensar como uma série animada italiana dos anos 90 pode causar tanto impacto na vida de uma pessoa. Em tantos episódios da minha vida dei comigo a pensar na confiança impassível de JD, na sua crença inabalável na resolução do caso.
Por estes dias, pergunto-me o que acharia JD do estado do mundo. Pergunto-me como resolveria este mistério da falta de empatia, de compaixão e aceitação no mundo. Que golpes inferiria para combater o racismo, a xenofobia, o sexismo, a ignorância?
Na minha arte marcial preferida, o Tai chi, aprendemos a usar a força do adversário na nossa defesa e contra-ataque. Em tempos pandémicos, o melhor será escrever, dar voz à empatia, à compaixão, à diversidade.