Kit de Sobreviência XXX - Ursula von der Leyen
Há umas semanas, naquele que ficou conhecido como o sofagate, Ursula von der Leyen, enquanto Presidente da Comissão Europeia, participou numa reunião em Istanbul com o Presidente da Turquia e o Presidente do Conselho Europeu. Para espanto da própria, ao chegar ao local da reunião, verificou que literalmente não tinha lugar. Charles Michel e Erdogan tomaram os seus lugares e a Presidente ficou reduzida a um sofá.
Na semana passada, ao dirigir-se ao Parlamento Europeu, Ursula von der Leyen, explica que se sentiu “magoada e sozinha, como mulher e como europeia”. Num gesto certamente simbólico, Von der Leyen surge de casaco cor-de-rosa e blusa branca, possivelmente numa homenagem às Sufragettes, que já havia sido celebrada por algumas mulheres democratas do Congresso norte-americano.
O discurso é particularmente importante porque Ursula von der Leyen não foge à sua própria vulnerabilidade, pelo contrário, expõe-na como meio para denunciar o sexismo que ainda existe também na política.
Poderia ser mais um dia num qualquer local de trabalho, mas trata-se da (primeira) Presidente da Comissão Europeia. Não é só um sinal de desrespeito, é um sinal claro de desigualdade de género. A Presidente reconhece o seu privilégio num cargo de poder e a importância das imagens para a revolta popular por todo o mundo. No entanto, alerta também para os casos que não são divulgados, a esmagadora maioria. Mulheres e crianças que sofrem abusos de poder e nunca têm o poder da denúncia e são remetidas para o silêncio.
Este é um problema também dos homens que, como Charles Michele, são cúmplices na desigualdade de género. Não nos iludemos, caro leitor, a igualdade de género depende da cooperação de todos, como disse a Presidente. Precisamos de mais mulheres em cargos de poder político, económico, legislativo, judicial, entre outros, que possam tomar decisões de mulheres para mulheres. É urgente, o tempo de agir é agora.