Kit de Sobrevivência VII - The Dalai Lama
À hora a que escrevo esta crónica não sabemos os resultados das eleições norte-americanas. Talvez não venhamos a saber durante dias, semanas ou, em último caso, meses.
Tenho vindo a pensar numa conferência a que assisti há uns meses da organização Girl Up com Meghan, Duquesa de Sussex. Anotei vários pontos sobre o seu discurso. “Compaixão é ver dor e sofrimento nos outros e saber que é o nosso dever ajudar a aliviá-lo”. Também me motivou a acreditar em “em nós próprios, no que nos torna únicos, a praticar o bem, mesmo quando é impopular ou nunca foi feito ou se nos assusta”. Gostei particularmente quando disse: “O medo pode ser paralisador mas a resposta está sempre dentro de nós”, senti-me verdadeiramente empoderada. Com a frase “criemos um mundo justo e bom”, traçou o Caminho e quando lhe perguntaram concretamente que passos dar a resposta foi curiosa: “acompanhar as minhas convicções de ações: às vezes é preciso só “deixar correr”, [por outro lado], o trabalho de cada dia vai acumulando e quando damos conta fizemos a diferença”. Mas a minha frase preferida e que uso muitas vezes em momento de crise: “PUSH THROUGH THE FEAR”
Eu sei que estas eleições são importantes. As implicações da vitória de um candidato ou outro são enormes para os EUA e para o mundo como expliquei na crónica Kit de Sobrevivência VI - Anónimo.
Mas o aspeto talvez mais preocupante dos últimos 4 anos e que não gostaria de ver no futuro para os meus filhos é a polarização política, o extremar de opiniões, a impossibilidade de ouvir outro com cores diferentes das nossas.
Muitas vezes o meu Avô (ver crónica A persistência da memória) contava que todos se encontravam no café “A Brasileira: comunistas, fascistas, infiltrados da PIDE, antifascistas, independentes como o meu Avô, intelectuais, pintores, escritores, artistas de todo o género e por ali ficavam noite adentro a discutir o estado das coisas.
O meu Avô tinha amigos de todo o espectro político, desde comunistas a democratas-cristãos e apreciava conversar com todos porque todos traziam uma perspetiva diferente, todos concordavam em algo e no que não concordavam discutiam como um prazer de café.
Hoje os americanos saem para as ruas com armas cada vez que discordam e interrogo-me muitas vezes o que diria o meu Avô e o seu grupo de amigos que, entre uns cafés e uns cigarros, foram fazendo a revolução antifascista mais pacífica da história da humanidade.