Kit de Sobrevivência XXXVI - Daisaku Ikeda
Nas últimas noites tenho tido dificuldade em dormir, não só pelo calor mas pela proximidade de um aniversário marcante na minha vida.
A minha Mãe sempre me disse que quando fez 30 anos a sua vida mudou. Nos meses que antecederam sentiu uma mudança dentro dela e sinto que o mesmo aconteceu comigo. Claro que uma ditadura e uma pandemia são momentos totalmente distintos mas agora consigo imaginar o que seria viver com medo, ter alguma liberdade restringida (ainda que a maior parte da nossa liberdade tenha estado intacta, nomeadamente a capacidade de continuar a escrever livremente o que penso e a ler o que me apetece).
Nestas noites, fico acordada a pensar na visão ingénua que tinha com 20 anos. Nessa altura, imaginava que teria uma carreira extraordinária no mundo académico e clínico, que manteria sempre o meu ativismo, viajaria pelo mundo inteiro e que aos 30 estaria casada e com um filho a caminho.
A vida deu muitas voltas e percebi neste último ano que os meus sonhos mudaram. Já não preciso da carreira genial, continuo o meu ativismo em diversas áreas através de outros meios – aqui e noutros projetos – e partilho um amor muito além dos contos de fadas. E mais importante, continuo a sonhar, a crescer e a desejar ser útil. Este é o meu derradeiro sonho e propósito: continuar a ser útil.
Então porque continuo a acordar às quatro e cinco da manhã? Porque a vida continuará a dar voltas enquanto continuo a fazer os meus planos e essa imprevisibilidade é tanto assustadora quanto entusiasmante. Já cheguei tão longe, muito mais do que poderia imaginar, suportada (literalmente) pela minha tribo: a minha família, os meus amigos e o caro leitor. Muito obrigada.