Made in Portugal
Fotografia: website Tory Burch
Esta semana recebi, no meu grupo digital de amigos, uma série de mensagens sobre Tory Burch. Numa série de mensagens os meus amigos explicaram que a estilista norte-americana tinha à venda no seu website uma camisola que, segundo a mesma, era inspirada no padrão mexicano da sua infância.
Abri o link, observei a camisola e notei um certo padrão familiar, especialmente no centro – o escudo português. Li o resto das mensagens. A estilista plagiou o design da camisola poveira, tradicionalmente bordada pelos pescadores da Póvoa de Varzim com lã da Serra estrela e linhas com as cores preta e azul. Um símbolo regional e portanto um verdadeiro tesouro nacional. Como se não bastasse, no website a dita camisola era vendida por 695€, quando a camisola original, leia-se, camisola poveira é vendida por cerca de 80€ na Póvoa do Varzim.
Desde então, a estilista fez uma série de manobras numa tentativa de apaziguar as centenas de mensagens nas redes sociais e no website. Inicialmente, corrigiu a descrição do item referindo que se tratava de “inspiração da Póvoa do Varzim”. Depois, emitiu um pedido de desculpa que só incendiou a discussão, particularmente quando a Câmara da Póvoa de Varzim prometeu levar o caso às últimas consequências, particularmente no campo legal. Mas a estilista continuava a vender a camisola por mais de oito vezes o preço original e o Governo Português emitiu um comunicado a admitir também ir a Tribunal lutar contra a apropriação cultural da camisola poveira. Finalmente, no fim-de-semana, a camisola deixou de constar no website e redes sociais da estilista.
Em tantos anos de amizade, tratando-se de um grupo tão grande quanto diverso – uns em diferentes cidades em Portugal, outros na Suíça, outros ainda na Suécia…- raramente estamos de acordo. Gosto muito dos nossos encontros pessoais porque são ricos e vivos, mas devo confessar que nem sempre consigo ver todas as mensagens. Considero-me mais uma participante observadora com uma voz desafiadora (ou incendiária, como o meu Príncipe gosta de brincar).
Como dizia, em tantos anos de amizade, não me lembro de um momento que tenha gerado um movimento tão unido como este: a Sara, quem nos alertou, denunciou o caso nas suas redes sociais, comentou no website e mobilizou-nos com a sua liderança para manifestar o apoio à camisola poveira e até o Francisco e o Guilherme, que raramente se envolvem em casos que não impliquem política (e por isso minhas almas-gémeas dentro do grupo), comentaram nas redes sociais, exigindo o fim da exploração da camisola poveira.
Quero deixar claro, caro leitor, que não sou a favor deste movimento de cancel culture porque muito se perde com a marginalização de autores. Contudo, neste caso, em que a inspiração é um plágio descarado parece-me necessário que além da camisola ser retirada exista uma indeminização à Câmara da Póvoa de Varzim e uma séria inspeção aos padrões em que a estilista se “inspira”.