Não te preocupes Gualter, amanhã será um dia melhor
Esta semana foi uma semana horribilis. E não estou só a falar das negociações para o Orçamento de Estado e do momento em que me apercebi que podemos, de facto, ter eleições em Janeiro.
Começou na Segunda-feira, logo quando abri a janela e caía aquela chuva irritante que só pode ser encontrada no Norte. O tempo incerto que persistiu toda a semana levou-me a ajustar o roupeiro três vezes, arrumar a roupa de Verão, procurar os pijamas de inverno e encontrar o casaco de meia-estação. Tudo isto ocupou uma tarde e uma manhã e, por isso, atrasei-me no meu curso de escrita.
Como se não bastasse toda esta azáfama de primeiro mundo, com viagens familiares para cá e para lá, não tive tempo para me sentar, estudar, ler e pensar, para escrever com sentido de responsabilidade e criatividade.
Quando éramos pequenos, isto é, o meu irmão e eu, às vezes também tínhamos um dia nublado ou uma semana chuvosa. Nessas alturas, a Mãe passava os dedos pelos livros da Rua Sésamo, cuidadosamente organizados, e tirava o “livro do Gualter”.
Na história, o Gualter sofre uma série de peripécias: além de ser um dia chuvoso, chega atrasado para a escola, não tem o seu almoço preferido e, no caminho para casa, calca uma pastilha elástica e a sua bota fica presa. Ao chegar a casa, Gualter corre para o colo da Mãe, que o aconchega com uma toalha e recupera a bota. Quando regressa a casa, a Mãe conforta-o: “Não te preocupes Gualter, amanhã será um dia melhor”.
Já não sei quantas vezes a Mãe nos leu esta história, mesmo quando já éramos mais crescidos, mas, sempre que tenho um mau dia ou uma semana pior, repito as palavras para mim mesma. É que, apesar de tudo, hoje é o aniversário do meu irmão, por isso, é um dia muito melhor. Parabéns mano!
LER DEVAGAR
Além do livro Não te preocupes Gualter, recebi no correio o livro O sonho de um homem ridículo (Editora 34), que a par de O Idiota são obras menos conhecidas de Dostoievski, mas igualmente contemporâneas, acutilantes e fascinantes.
OUVIR COM CALMA
Durante uma semana terrível, encontrei algum conforto nos Nocturnes de Chopin pelas mãos da enorme Maria João Pires. Talvez seja uma escolha estranha, mas quando me sinto assim, a melhor expressão é através da música.