O Longo Inverno
Fotografia: Andrea Mantovani para o New York Times
Tudo mudou. Nesta imagem do jardim de Tuileries, em Paris, podemos ver a devastação causada pelo covid. Não há crianças nas ruas, nem velhinhos nos bancos do jardim, nem pessoas apressadas. O mundo parece suspenso, como que a suster o ar à espera da próxima crise.
Esta semana Aleksei Navalny regressou à pátria-mãe, onde foi acolhido com um mandato de prisão. Milhares de pessoas protestaram nas ruas e foram presas, incluindo a sua mulher, Yulia Navalnaya. Não há dúvida de que pouco progresso foi conseguido desde a queda do muro de Berlim. Vladimir Putin parece governar como Lenin, envenenado os seus opositores ou mandando para a Sibéria aqueles que discordam da sua visão para a Rússia: expansão e oligarquia.
Em notícias mais tristes, Aung San Suu Kyi, líder birmanesa foi detida na manhã de Segunda-feira por um golpe militar. A sua complicada história, primeiro de heroína, a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Paz, depois de vilã, quando se soube do genocídio dos Rohingya, uma minoria muçulmana de Myanmar.
Um golpe militar é sempre uma má notícia, significa que a democracia não teve guardiões à altura. Por esta razão, quando discuto com amigos ou família se os deputados devem todos ser vacinados, a minha resposta é: provavelmente não. Tal como em todas as outras profissões, deve ser definido um grupo de “indispensáveis” para a Assembleia da República, considerando-se, assim, “trabalhadores da linha da frente”. Naturalmente o Presidente da República e o Governo, provavelmente os líderes de bancada e outros deputados envolvidos em grupos de trabalho que não possam funcionar em teletrabalho. Se não houver Governo, quem nos governará? Se não houver deputados, quem fará leis? Trata-se de, com critérios apertados e sérios, defender a nossa democracia.
O Inverno já vai longo, mas só porque Portugal continua sucessivamente nos piores rankings. Não nego a "super tempestade" de que fala Ricardo Araújo Pereira no “Governo Sombra” de há umas semanas, mas é preciso fazer mais e melhor, organizar e prever melhor.