O regresso às aulas
Desde o anunciado "estado de contingência", as ruas estão praticamente desertas. Nos nossos passeios, era frequente cruzarmo-nos com um vizinho ou algum conhecido e cumprimentar (com a devida distância e máscara carnavalesca), mas ultimamente não se vê viv'alma. Apenas os adolescentes continuam os seus treinos de basquetebol (ver crónica "Sunny Delight").
Quando era pequena, por esta altura, começavam a cair as primeiras folhas douradas, assim sabia que o Outono estava para chegar. O primeiro dia de aulas era sempre motivo de grande ansiedade, por isso no fim das aulas víamos logo o material estava bom e que material iríamos precisar no ano seguinte.
Nos primeiros anos deslocavamo-nos com antecedência à papelaria (mais tarde ao supermercado) para comprar algum material em falta. Não me recordo de haver tanto consumismo, mas talvez seja a minha mente a pregar-me partidas...lembro-me vagamente de um ano em que a Professora pediu papel-crepe e corremos várias papelarias sem sucesso, foi a maior aventura do inicío de um ano letivo.
Reunido o material, a Mãe sentava-se na mesa grande da sala e encadernava os livros um a um e, invariavelmente, ficavam com bolhas. Nunca levámos o material etiquetado porque, naquele tempo, o material era para partilhar. De uma forma geral, quem tem irmãos está habituado a partilhar, mas aquelas canetas de gel, uma a cada ano, custava-me muito partilhar.
Na primeira página de cada caderno escrevia o meu nome completo e o meu número de aluna, caso já soubesse. Às vezes decorava os cadernos por dentro com desenhos gregos ou fazia separadores para as disciplinas. Se usava capa, procurava criar um índice de acordo com o meu horário e os dias da semana. Sempre fui muito organizada e sempre adorei listas para tudo, talvez saia à Mãe.
Quando todo o material estava pronto, telefonava às minhas amigas (só tivemos telemóveis mais tarde), para combinar o que cada uma ia vestir no primeiro dia de aulas, mas sobretudo para saber a que horas nos íamos encontrar na escola. A Mãe sorria, mas não dizia nada acerca do meu medo de entrar sozinha, talvez também as mães tenham sentido medo na sua altura e tenham precisado das suas amigas.
Chegada a manhã do primeiro dia de aulas, "as formigas ninja" atacavam a cama do mano para ele se levantar, eu verificava pela enésima vez todo o material, tomavamos um bom pequeno-almoço (não porque quiséssemos, mas porque a Mãe nos encorajava) e a Mãe lá nos deixava na escola.
Esta semana as crianças e adolescentes começaram ou começam as aulas e não posso deixar de pensar que, para eles, o desafio é muito maior. Sem ver os sorrisos dos seus amigos, dependem apenas do olhar encorajador uns dos outros para enfrentar este novo dia. Força!