Reset
Nas últimas semanas tenho tido muita dificuldade em dormir, o meu coração bate (literalmente) mais depressa e as enxaquecas são mais frequentes. A guerra, o covid, o futuro parecem absurdos. O mundo parece estar suspenso, à espera de um sinal, um ramo de paz, algo que nos permita suspirar de alívio. E, no entanto, os noticiários enchem-se de histórias de desgraça, desespero, fratura.
Sei que pode parecer fútil, até inconsciente mas, para bem da minha saúde, decidi não ver mais noticiários. Claro que continuo a ser fiel leitora dos principais jornais e cronistas, mas não aguentava mais o poder que as imagens têm sobre mim. Por isso decidi parar e quando parei chorei. Por todas as crianças que ficaram órfãs, por todas as Mães que deixaram os seus filhos, por todos os jovens que lutam nesta guerra, por todo um povo que luta pelo seu território, pela sua identidade. Bem sei que existem muitas guerras, mas esta é aqui, no nosso bairro, com os nossos vizinhos, com os nossos amigos.
Depois de secar as lágrimas, lembrei-me do que a minha Mãe me diz sempre: “se não estamos bem, não podemos cuidar dos outros”. Por isso decidi olhar bem para mim, pensei em todas as coisas difíceis que 2022 já me trouxe, mas também nas alegrias. De repente comecei a sentir o meu corpo, as dores nas costas, nas pernas, no pescoço. Tenho tomado alguns banhos de imersão, feito muitos alongamentos, apertado os músculos contra o foam roller. Alguma dor melhorou, mas tenho de reconhecer, grande parte desta dor é também mental.
Então senti o meu coração, o que doía mais, a solidão, o isolamento, a desconexão com os meus, mas acima de tudo a clivagem dentro de mim. Precisava de me agregar, mais do que com os outros, comigo mesma em primeiro lugar. Escrevi num papel o que preciso de fazer para me sentir bem num dia, só mesmo o básico: acordar, espreguiçar-me, tomar um duche, comer a horas certas e incluir sempre legumes e fruta, fazer a minha rotina de pele, dar um passeio ao ar livre, ler pelo menos dez minutos, escrever uma página por dia.
Já não sei dizer onde ouvi, mas ser adulto é simplesmente fazer as coisas chatas da vida: responder a emails, ligar a pessoas, marcar reuniões, ir aos correios, esperar na fila das finanças, ouvir muitos “não”, cometer vários erros. Se tivermos sorte, nada será tão mau que não possa ser corrigido com um pedido de desculpa, alguma empatia e muita compaixão.
OUVIR COM CALMA
Muito antes desta guerra, José Milhazes falou da complexidade das relações entre a Ucrânia e a Rússsia e a Rússia e o Ocidente, bem como dissertou sobre a cultura e visão russas no podcast #45GRAUS. Vale a pena ouvir.
VER NO SOFÁ
E hoje conhecemos os vencedores dos tão cobiçados OSCARES. Ao que parece, a RTP volta a transmitir a cerimónia em direto a partir das 23h, na RTP1. Quais são os vossos filmes favoritos?