Bem-vindo 2021!
Foto por: Anamor
A Porto Editora anunciou esta semana que a palavra do ano 2020 foi “saudade”. Faz sentido se pensarmos na singularidade da palavra, naquilo que a torna tão especial, tão portuguesa.
Lembro-me desse 12º ano, desses tempos místicos, da minha Professora falar sobre Fernando Pessoa e o movimento saudosista. Jamais esquecerei o que a minha Professora de Português disse: “saudade é uma palavra unicamente portuguesa. Ao contrário do que muitos pensam, saudade não é a tristeza causada pela ausência de algo ou alguém, mas a melancolia de algo que nunca se viveu, «do que há-de vir».”
Assim, talvez 2020 seja mesmo um ano que deixará saudade, pelo que nunca foi nem nunca poderá ser. A ausência absoluta de tanto: amigos, família, ocasiões importantes, abraços, trabalho, festas, tudo emaranhado num novelo que só o tempo e, com esperança, 2021 poderão desenrolar.
Começámos o ano com a notícia quase inacreditável de que o país estava, de facto, preparado para a chegada das vacinas e, com a prontidão do relógio de cuco do meu Avô, a vacinação começou a 27 de Dezembro de 2020.
Mas eis que, a 6 de Janeiro de 2021, os Bullies saíram da toca diretamente para o Senado, nos Estados Unidos, e para os debates presidenciais, em Portugal.
Ao ouvir o debate entre os candidatos mais à direita de Portugal, não pude deixar de apreciar a calma de Tiago Mayan Gonçalves perante o ruído permanente, comportamentos só vistos e aceites num estádio de futebol. Curiosamente, quando o candidato da Iniciativa Liberal se aproxima da “ferida que arde”, o seu oponente recusa, dizendo que tanto lhe faz se é do Benfica ou do Porto. A única pessoa por quem o candidato de extrema-direita radical parece ter o mínimo respeito é o atual Presidente da República, que o acusa no momento derradeiro do debate entre os dois de ter duas caras, ou melhor, dois tons: um quando vai a Belém, e outro nos debates. Poderá porventura abrir uma janela sobre como se desmascaram e combatem os populistas, os xenófobos, os demagogos, os sedentos de poder, os troca-tintas: com amabilidade e frieza, expondo cada um dos seus mitos.
Felizmente não escalámos ainda até Washington, onde um grupo de supremacistas brancos invadiu a instituição mais sagrada da Democracia: o Senado. A isto se chama um ato de terrorismo doméstico.
É por isso que, mal por mal, prefiro viver num país “de brandos costumes”, porque tenho saudades do que há-de vir. Um tempo de abraços, amor, paz, jantaradas e viagens, muitas. Enquanto o nevoeiro ainda paira, fiquemos atentos àqueles que ameaçam a nossa democracia.