Kit de Sobrevivência XXIV - Schopenhauer
Há um ano perdemos coletivamente a primeira pessoa para a covid-19. Há um ano entrávamos em confinamento.
Tenho passado muito tempo só. Não é bem só, é comigo mesma que é muito diferente. Como já escrevi em várias crónicas, esta pandemia fez-me questionar a vida que levava, os hábitos que tinha, a forma como investia o meu tempo.
Não foi logo nos primeiros dias, talvez só duas semanas depois do início do confinamento é que senti um desconforto, como uma cobra rastejante no Verão.
A princípio não liguei, procurava desenfreadamente novas formas de adormecer a dor que via em todo o lado, o medo que sentia.
Mas no início de Abril, era inegável a necessidade de parar, refletir, passar tempo comigo própria. Olhar bem no espelho, (re)conhecer-me, ver o que gostava, observar o que não gostava e decidir o que fazer.
A primeira coisa que fiz foi estabelecer uma rotina que me impedisse de cair na espiral do esquecimento, no poço das redes sociais, nas séries e filmes, nos livros e imaginação.
Depois percebi que era fundamental apanhar sol e todas as manhãs vestia um top de ginástica e ali mesmo na varanda do nosso apartamento, com vizinhos e tudo, lia durante um bocado ao sol.
O resto veio por arrasto: yoga ou alongamentos, pilates ou caminhadas, o importante era mover-me.
Comecei a escrever e assim nasceu O Espaço das Pequenas Coisas. As crónicas seguiram-se umas às outras e as ideias não paravam. Quem diria que tenho tanto para dizer?
Ultimamente a inquietação tem sondado as minhas noites como aquela cobra no Verão. Mas desta vez sinto que temos razões para ter esperança.