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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

04
Jul21

Kit de Sobrevivência XXXVIII - António Coimbra de Matos

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António Coimbra de Matos, psiquiatra e psicanalista português, Pai da Psicanálise e Pensador português. Deixou-nos aos 92 anos, no 1º dia de Julho.

 

Apesar de admirar o trabalho do Dr. Coimbra de Matos, só uma vez tive coragem de o abordar num Congresso há muitos anos. O seu sentido de humor mordaz e certeiro sempre me fascinou e intimidou, mas o desejo de escutar a sua sabedoria era maior.

 

O Pai da Psicanálise Portuguesa tinha uma maneira muito própria de tornar ideias complexas num conceito mais simples, com um fio condutor claro e compreensível até para leigos. Além disso, e ao contrário da maior parte dos psicanalistas, era um homem moderno, olhava para a Psicanálise como uma poderosa ferramenta para pensar o futuro e não só as tradicionais díades Mãe-bebé, Pai-bebé e fazia-o sempre com humor.

 

Será lembrado pelo seu legado e por todos aqueles a quem a sua sabedoria tocou.

23
Jun21

Kit de Sobrevivência XXXVII - Expressão popular Portuguesa

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A pandemia alterou muitas coisas e, apesar d’a vida a acontecer, muitos eventos foram alterados, muitas reflexões despertaram mudanças. Numa das primeiras crónicas aqui, chamada “As pequenas coisas II”, escrevi sobre algumas tradições que me traziam conforto, mas não escrevi sobre “a bola”.

 

Quando era pequena, o meu Pai e o meu Avô levaram-me ao estádio (o antigo), para ver os grandes jogadores da época que hoje aparecem no programa “Conversas de Balneário” do Canal 11 (obviamente sugerido pelo meu Príncipe). Naquela altura, dava gosto ver futebol, a tática começava a assumir cada vez maior importância e a preparação física (e muito mais tarde, mental) começou a ganhar peso nas equipas.

 

No Euro 2016, Portugal foi campeão, como o leitor poderá saber. Na semana seguinte, o meu Príncipe viajou em trabalho a França e era tamanha alegria que os franceses, que até então faziam jus à expressão “à grande e à francesa”, andavam cabisbaixos. Foram momentos de grande alegria (para Ele). Já eu, recordei com alguma tristeza, esses dias em que ia ao Estádio com o meu Avô e tudo era um pouco improvisado, mas havia a garra de querer ganhar.

 

Esta equipa de Portugal, faz lembrar um pouco as equipas do Real Madrid: muitas vedetas, pouca equipa. Acredito verdadeiramente que, se a equipa conseguir (re)unir-se e encontrar o propósito comum, pode ser campeã novamente. Até lá, continuamos a torcer pela seleção portuguesa.

16
Jun21

Kit de Sobrevivência XXXVI - Daisaku Ikeda

KS XXXVI Daisaku Ikeda.png

Nas últimas noites tenho tido dificuldade em dormir, não só pelo calor mas pela proximidade de um aniversário marcante na minha vida.

 

A minha Mãe sempre me disse que quando fez 30 anos a sua vida mudou. Nos meses que antecederam sentiu uma mudança dentro dela e sinto que o mesmo aconteceu comigo. Claro que uma ditadura e uma pandemia são momentos totalmente distintos mas agora consigo imaginar o que seria viver com medo, ter alguma liberdade restringida (ainda que a maior parte da nossa liberdade tenha estado intacta, nomeadamente a capacidade de continuar a escrever livremente o que penso e a ler o que me apetece).

 

Nestas noites, fico acordada a pensar na visão ingénua que tinha com 20 anos. Nessa altura, imaginava que teria uma carreira extraordinária no mundo académico e clínico, que manteria sempre o meu ativismo, viajaria pelo mundo inteiro e que aos 30 estaria casada e com um filho a caminho.

 

A vida deu muitas voltas e percebi neste último ano que os meus sonhos mudaram. Já não preciso da carreira genial, continuo o meu ativismo em diversas áreas através de outros meios – aqui e noutros projetos – e partilho um amor muito além dos contos de fadas. E mais importante, continuo a sonhar, a crescer e a desejar ser útil. Este é o meu derradeiro sonho e propósito: continuar a ser útil.

 

Então porque continuo a acordar às quatro e cinco da manhã? Porque a vida continuará a dar voltas enquanto continuo a fazer os meus planos e essa imprevisibilidade é tanto assustadora quanto entusiasmante. Já cheguei tão longe, muito mais do que poderia imaginar, suportada (literalmente) pela minha tribo: a minha família, os meus amigos e o caro leitor. Muito obrigada.

09
Jun21

Kit de Sobrevivência XXXV - Jane Austen

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Como o leitor poderá saber, estou a ouvir a biografia de Barack Obama “A Promised Land”, lida pelo próprio.


É maravilhoso ouvir a voz do antigo Presidente relatar os eventos que levaram à sua candidatura e consequente Presidência dos EUA. O seu tom de voz calmo, a sua maneira de realmente escutar as questões, ponderar bem sobre a informação e responder de uma forma clara e objetiva são algumas das características que o tornam tão apelativo.


Além de parecer um homem bom, independentemente do seu nível de cansaço, Barack Obama conseguiu muito na sua Presidência, muito mais do que alguns de nós nos lembraríamos. Muito do seu legado foi construído nos bastidores da política, promovendo diálogos difíceis, nunca fugindo a questões quer do seu partido, quer dos eleitores e do Mundo.


Para mim, o que fica não é só o que Barack Obama fez, mas como o fez. O tom conciliador que definiu a sua Presidência, o olhar atento ao Mundo (mesmo em questões tão sensíveis como o genocídio em Myanmar). Em tudo, o Presidente agiu como um verdadeiro líder mundial, procurando consensos, tomando posições rígidas quando foi preciso, mas no geral sendo a voz da Paz. É por isso que, para mim, a atribuição do Nobel da Paz a Barack Obama nem era discutível. O período da sua Presidência foi, simultaneamente, o período de maior paz mundial e é tudo graças ao seu tom.


Nos últimos anos, frequentemente vem-me à memória a sua calma e delicadeza que só são, para mim, comparáveis às de Papa Francisco.

02
Jun21

Kit de Sobrevivência XXXIV - Zadie Smith

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No tempo que passei em Inglaterra, uma amiga que lá vive há cinco anos, resumiu a sua experiência em Inglaterra da seguinte forma: “os ingleses são todos cheios de regras, nem sequer me olham nos olhos durante a semana. À sexta-feira vão para os bares embebedar-se e já são os meus melhores amigos.”

 

Claro que é uma generalização absoluta de um grupo restrito e algumas pessoas foram muito amáveis durante o tempo que passei lá. Guardo memórias maravilhosas do campo, do rio, dos animais, da Natureza inglesa do burburinho das cidades, da oferta cultural.

 

Quando era mais nova, no Algarve, porém, a história era diferente. Frequentemente vi o cenário descrito pela minha amiga, o que sempre me incomodou. Refleti melhor sobre o povo inglês e percebi que é, como provavelmente muitos países, uma nação de contrastes: o campo e a cidade, a riqueza do centro de Londres e bairros nos subúrbios, a nobreza e a imigração. Sente-se particularmente em Londres, as pessoas tensas, sempre atarefadas, contrastantes com o laissez-faire dos dias de Verão.

 

Quando era pequena, por vezes, o meu Pai levava-me ao estádio de futebol. Quando o novo estádio estava a ser construído lembro-me de ouvir o meu Pai debater com os amigos: “não vai haver redes para segurar adeptos! Vai ser só invasões de campo!” dizia um amigo do meu Pai; “não pá, vai ser como os ingleses, que quando tiveram condições melhores, sem barreiras, ajustaram o comportamento. Isso dos hooligans está a desaparecer…” respondia o meu Pai.

 

A verdade é que as imagens divulgadas infelizmente mostram o pior dos adeptos ingleses: sob todas aquelas regras, existe uma sociedade profundamente dividida, racista, xenófoba, como contam Zadie Smith nos seus livros e os Duques de Sussex nas várias  entrevistas  que concederam.

 

O aspeto talvez mais preocupante é o tabu da saúde mental. Numa sociedade tão reprimida, é difícil tratar a saúde como um todo, apesar de existirem vários programas interessantes com foco na intervenção precoce e no que chamam de “mental fitness”. Mas esta raiva demonstrada pelos adeptos é um sintoma de uma comunidade que precisa de ajuda.  

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