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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

29
Jan22

Abstenção

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Há uns dias um leitor comentou uma das minhas crónicas sobre as legislativas apelando à minha reflexão sobre o sentido do voto.


De facto, para mim o voto é um direito constitucional conquistado com o sangue e a vida de muitos cidadãos. Como já escrevi em várias crónicas, venho de uma família investida na política, pelo que a minha abstenção não seria bem aceite.


Compreendo, no entanto, que o sistema democrático apresenta várias falhas, desde o processo de eleição dos candidatos de distrito, ao regime semi-presidencialista, ao fraco combate à corrupção na política. A abstenção não é só um problema português, vejam-se as eleições europeias.

A ausência de voto pode indicar desinteresse ou protesto. O sistema eleitoral tem muitas lacunas, é antiquado, pouco intuitivo, moroso, pouco acessível às populações. Além disso, a campanha eleitoral é excessiva, agressiva, disparatada por vezes (apesar de fornecer bom material para os comediantes).

Por outro lado, a abstenção também pode ser um protesto contra o status quo, contra as estruturas que se recusam a mudar ou mesmo porque a pessoa não se revê num programa político ou num partido. Frequentemente observo este fenómeno entre amigos.

Ainda assim, a beleza da liberdade reside em votar num partido, votar em branco ou não votar, seja por desinteresse ou protesto. Viva a Democracia.

16
Jan22

Legislativas 2022

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Depois de assistir a maior parte dos debates, posso dizer com confiança que não me revejo em nenhum partido. Na verdade, parece-me que o problema é que não me revejo na Política que se pratica hoje em dia em Portugal e no Mundo.

 

No seu livro The Promised Land, Barack Obama detalha como o surgimento da candidatura de Sarah Palin mudou as regras do jogo. Com a sua retórica populista, alimentando-se e alimentando teorias da conspiração, movimentos ocultos, grupos altamente perigosos a governadora do Alaska parecia incansável nos soundbites. Mas, se dermos uma volta na máquina do tempo, já a figura de Ronald Reagan (embora o Presidente Obama não o tenha escrito) foi um disruptor. Se pensarmos bem, Reagan era um ator de Hollywood, sem qualquer percurso político ou civil, apoiado por grupos ocultos conservadores, com uma agenda tendenciosa.

 

Em Portugal, os movimentos populistas não encontraram grande ressonância até muito recentemente. Já correu muita tinta com análises de jornalistas políticos, psicólogos, antropólogos, sociólogos, cientistas políticos, entre outros.  A verdade é que o discurso político mudou, o tom mudou, o volume mudou.

 

O que outrora assumíamos como a verdade, baseada em factos sujeito a prova, atualmente parece algo discutível, como se a Ciência fosse ela própria uma teoria da conspiração. Mas como combater a desinformação e a informação falsa?

 

Talvez o aspeto mais preocupante seja a mudança de tom. De repente, o tom, volume e discurso disseminaram-se numa propaganda cuidadosamente editada nas redes sociais, permitindo que ideias absolutamente extremistas e que ignoram a Constituição Portuguesa cheguem a debates televisivos. Mais, esta praga do populismo parece ser transversal a todos os candidatos, propostas e partidos.

 

Em todos os debates é notável esta mudança, com a propagação de meias-verdades, factos retirados de contextos, entre outros. Infelizmente, este ruído parece ter vindo para ficar, o que empobrece o debate público, dificulta o conhecimento e esclarecimento dos programas políticas e das medidas concretas, isto é, de como a nossa vida será efetivamente gerida dependendo do Governo eleito.

COMUNICADO: O Espaço das Pequenas Coisas expressa solidariedade para com as redações do Expresso e da SIC, alvo de um ataque informático sem precedentes, um atentado à liberdade de expressão que ameaça a nossa democracia.

 

 

VER NO SOFÁ

A propósito do discurso fundamentado em meias-verdades, lembrei-me da série House of Cards, onde Frank e Claire Underwood, duas figuras políticas, se movimentam nos bastidores da política para atingirem o seu objetivo: chegar à Presidência da República dos EUA.

No mesmo comprimento de onda, o documentário Knock Down the House segue uma série de candidatas às eleições de 2018 para o Congresso norte-americano.

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