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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

13
Mar22

O meu amigo

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Há umas semanas perdi um amigo. Não era um amigo de longa data, mas era, como diz a minha Tia Zizi, um “amigo de casa”. Há os amigos com quem saímos na escola e na faculdade, há amigos circunstanciais do trabalho, há amigos de amigos, há melhores amigos e depois há os “amigos de casa”. Um amigo de casa é uma pessoa com quem crescemos que não só nos conhece, mas conhece a nossa família, os nossos amigos, os nossos parceiros. É um amigo com quem passamos tanto tempo que é impossível recordar todas as histórias.

 

O meu amigo de casa era o melhor amigo do meu Príncipe. Quando somos mais novos temos o nosso grupo de amigos ou alguns melhores amigos, em quem confiamos e que confiam em nós os maiores segredos, as experiências mais mundanas e incríveis, os amores e desamores, a vida a acontecer.

Mas quando crescemos e gostamos muito de alguém, aprendemos a amar os seus amigos como se de nossos amigos de casa se tratassem. Os seus problemas e alegrias passam a fazer parte da nossa vida, como fazem parte da vida do nosso Amado. Sentimo-nos gratos e felizes por serem tão bons amigos do nosso Príncipe, por o amarem quase tanto como nós, por cuidarem do nosso Amor, por partilharem as memórias e novas histórias, por nos darem a conhecer uma outra versão do nosso Querido. Se tivermos sorte, partilhamos uma responsabilidade pelo bem-estar do nosso Amado e imaginamos um futuro em conjunto, imaginamo-nos a partilhar a vida entre amigos, apadrinhar os casamentos, os filhos, férias e viagens, concertos, exposições e espetáculos, conversas que se prolongam noite adentro, filhos amigos, partilhar a vida a acontecer.

 

Quando há uma interrupção abrupta dessa amizade, construída ao longo de anos, uma amizade por extensão da qual também nos apropriamos, a vida pára de acontecer, ainda que por umas horas, uns dias, umas semanas. Nem todos compreendem esta suspensão do tempo, este mergulho numa profunda tristeza, num mar de histórias e memórias, de desamparo, e um ímpeto de proteção e clausura

 

O meu amigo era bom, tinha uns olhos vivos e um sorriso malandreco. Era alto e magro, muito destemido no seu sentido de humor, um performer nato, tanto na comédia como na música. O meu amigo era generoso, nas palavras e nos actos, nunca nos visitava sem uma palavra amiga e um “bolo da melhor confeitaria da cidade”. Era grandioso nos gestos, cauteloso nos sentimentos, protetor dos pensamentos. O meu amigo era o melhor amigo do meu Príncipe, partilharam toda a adolescência, a juventude e um pouco da idade adulta. Mas o meu amigo também era meu amigo e por isso sinto muito a sua falta.

 

 

OUVIR COM CALMA

A propósito do covid e suas consequências, o médico intensivista Gustavo Carona dá uma entrevista a Inês Meneses no seu podcast Fala com Ela. O médico portuense já deu a volta pelo mundo em missões humanitárias, escreveu dois livros e continua a tornar o mundo melhor.

06
Dez20

As perdas que (não) partilhamos

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Fotografia de Paul Cupido,  courtesia da Danziger Gallery retirado do artigo "The Losses we share" no The New York Times

 

Foi com profunda tristeza que li a crónica de Meghan, Duque de Sussex no New York Times sobre a perda do seu segundo filho, em Julho deste ano. No ensaio, Meghan explica que, enquanto mudava a fralda do seu filho de um ano e meio, sentiu uma dor lancinante, caindo ao chão com o filho no colo, deixando-se ali ficar, cantando uma música de embalar numa tentativa de se acalmar a si e ao filho.

 

Esta descrição emocionou-me profundamente, especialmente quando vi os números ali, preto no branco: numa sala de 100 mulheres, 10 a 20 mulheres sofrem um aborto espontâneo. Se pensar no meu círculo mais íntimo, mais de 10 mulheres sofreram a perda de um filho. É uma dor inimaginável, um vazio terrível, um sentimento de culpa inexplicável. A maior parte das mulheres não fala sobre o assunto, talvez por medo, culpa, dor ou pelo vazio. Mas também por vergonha, como se de alguma forma, sentissem que são culpadas dessa perda.

 

Outro aspeto comovente nesta crónica foi a inclusão da dor partilhada com o marido/pai. A inclusão da figura do Príncipe Harry permite abrir a discussão sobre o luto que os pais também têm de processar, apesar de não experienciarem a perda no seu corpo. A família que espera ansiosamente a chegada de um/a irmã/o, neto/a, sobrinho/a, primo/a, afilhado/a. É nesta altura que a Duquesa de Sussex, se questiona sobre como se ultrapassam as perdas que partilhamos.

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