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O espaço das pequenas coisas

O espaço das pequenas coisas

02
Jan22

Querido (leitor), mudámos de casa!

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Há umas semanas mudámos de casa. Há muito tempo que queríamos mudar a nossa vida compacta e útil de um apartamento para uma vida com mais ar puro e Natureza. Depois veio o covid e, de repente, ficámos presos na jaula, sem poder sair, sem poder explorar trilhos, sem poder respirar com o medo paralisante do desconhecido. Mas depois vieram as vacinas e afinal o mundo não acabou, as empresas voltaram a abrir portas, para tornar a fechá-las nos meses seguintes. Foram implementadas “medidas de contenção” para logo tudo abrir para o Verão, o Natal e o Ano Novo, porque, afinal, percebeu-se que os seres humanos são gregários, precisamos uns dos outros para sobreviver, precisamos dos abraços, dos afetos, do amor.

 

Claro que as empresas também perceberam que precisamos desse contacto e, por isso, embora tenham existido mudanças profundas no mundo do trabalho, a verdade é que o contacto presencial semanal continua a ser prática da maior parte das empresas.

 

Compreende-se que assim seja tendo em conta o tecido empresarial português, tecelado por micro e pequenas e médias empresas, muitas vezes familiares, com contas para pagar, distribuidores interdependentes, relações de trabalho complexas. Neste “pano empresarial”, existem também os unicórnios portugueses e os mitossauros estrangeiros, startups portuguesas que crescem exponencialmente e megaempresas multinacionais que investem milhões no mercado português respetivamente.

 

Na maior parte desta manta de retalhos, algumas empresas convidam os seus colaboradores a passarem a maior parte do tempo no escritório, outras redefiniram-se e passaram a funcionar em regime de teletrabalho e outras ainda implementaram um sistema misto.

 

Voltemos à mudança de casa, desde que o mundo abriu, tivemos de pôr em prática algumas das coisas que lamentámos não ter feito quando parecia que o mundo ia acabar e outras que prometemos implementar se por um milagre o mundo não acabasse. Não mudámos para uma casa de campo, mas vivemos mais perto do trabalho, o que nos dá uma sensação de tranquilidade em si. Não somos forçados a conduzir nem sequer a andar de transportes públicos, podemos simplesmente caminhar.

 

O que aprendi neste tempo é que mudar de casa é mudar de vida. É olhar para todas as tralhas que acumulamos dentro da nossa casa, dentro de nós, e perceber que afinal não são essenciais. É perder o chão para voar e encontrar um novo poiso. É assustador e entusiasmante, é caótico e confuso, mas vale tanto a pena. De início nada encaixa, as gavetas não comportam os talheres, as formas de bolos não cabem na prateleira designada, os copos definitivamente não se organizam magicamente. Mas, neste novo puzzle, há mais espaço para imaginar as possibilidades intermináveis de uma nova vida, com mais tralhas que valham a pena.

31
Dez21

O melhor de 2021

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Num ano marcado por uma crise sanitária, económica e social, por vezes pode tornar-se difícil encontrar momentos bons. É por isso que gosto de olhar para as pequenas coisas, mas hoje trazemos algumas grandes.

 

1. Profissionais de Saúde

Neste ano em particular, o mais importante foram as equipas de médicos, enfermeiros, assistentes operacionais, técnicos de imagem, trabalhadores de limpeza hospitalar, colaboradores de secretariado, seguranças e voluntários e, por isso, quero agradecer a todos os profissionais de saúde por mais um ano, com grande esforço e espírito de resiliência persistirem na luta contra a covid-19, mas também nas consultas e cirurgias programadas, nas urgências, nos cuidados continuados, nos cuidados paliativos, nos cuidados primários. São os heróis não só do ano, mas de sempre. Muito obrigada.

 

2. Vacinação

Foi naquele mês quente de Outubro que Portugal atingiu a meta de 85% da vacinação completa (duas doses). Na altura, já se sabia que a imunidade de grupo era uma miragem, uma fábula contada noutros tempos, uma ideologia morta pela ciência. Ainda assim, foi importante atingir esta meta, a par da vacinação contra a gripe. Atualmente a vacinação contra a covid está disponível para crianças a partir dos 5 anos e a terceira dose para a população idosa, profissionais de saúde e de estruturas sociais da terceira idade.

 

3. Tomada de posse de Joe Biden como Presidente dos EUA e Kamala Harris como Vice-Presidente dos EUA

Já passou quase um ano e, para os mais esquecidos, por esta altura, em 2021, pairava no ar a dúvida de Trump, por meios legais ou pela força bruta, permanecer como Presidente dos EUA. Naquele triste dia de 6 de Janeiro de 2021, quando Trump cometeu o crime de incentivo ao ódio e ao terrorismo doméstico, a democracia norte-americana parecia, de facto, ameaçada. Felizmente Joe Biden tomou posse a 20 de Janeiro 2021 sob o olhar atento da sua esposa, Dr. Jill Biden.

 

4. Exploração espacial

Desde a entrada da sonda dos Emirados Árabes Unidos Hope na órbita de Marte a 9 de Fevereiro de 2021, à aterragem do robô da NASA Perseverance em solo marciano, ao robô chinês Zhurong pousar em Marte a 15 de maio de 2021, a verdade é que 2021 foi um ano excelente para a exploração espacial. Para os amantes e curiosos, a qualidade de imagens conseguidas podem ser vistas aqui.     

 

5. Simone Biles abandona as provas de ginástica artística dos Jogos Olímpicos

A ginasta norte-americana dá um passo fundamental para a mudança de paradigma da saúde mental. No desporto, muito se fala na preparação física, vários atletas abandonam competições e jogos mais ou menos importantes por lesões físicas, mas esta é a primeira vez que, durante a minha vida, vi alguém tão icónico invocar a saúde mental. Um sinal importante para o desporto e para o mundo.

30
Dez21

O melhor de 2021 - Filmes

O melhor de 2021 filmes.png

Os filmes sempre ocuparam na minha vida um papel central. Ao contrário das séries ou dos livros, sem me aperceber fico completamente imersa numa história, numa personagem, numa paisagem. Gosto muito de Arte (é como escrever gosto muito de respirar), mas o Cinema é um amor transcendente que leva a um histórico de pesquisa povoado por produtores, empresas de produção, diretores artísticos, entrevistas de atores, excertos de diálogos. Este ano foi, mais uma vez, deprimente pelas restrições impostas quer nos festivais, quer nas salas de cinema. Ainda assim, com a nova televisão e um sistema de som decente conseguimos assistir a alguns filmes sem o mesmo efeito claro. Armados de máscaras e desinfetante lá nos aventurámos umas vezes naquela sala de cinema que o leitor conhece, onde se veem filmes e não se comem pipocas.

 

1. PARALLEL MOTHERS de Pedro Almodóvar

Cada filme de Pedro Almodóvar é uma parte da sua história, do seu mundo, da sua capacidade de reflexão. Uma reflexão sobre o papel de Mãe interpretado pela irrepreensível Penélope Cruz, já longa musa de Almodóvar, é a história de duas mães que dão à luz do mesmo dia, no mesmo hospital e cujas vidas estarão para sempre interligadas.

 

2. THE HAND OF GOD de Paolo Sorrentino

Um filme já premiado e candidato a melhor filme estrangeiro nos Golden Globes, Paolo Sorrentino traz a nostalgia de um adolescente nos anos 80 atravessada por uma tragédia. Um drama familiar e profundamente emotivo, ao estilo Sorrentino.

 

3. PASSING de Rebecca Hall

Desde Vicky Cristina Barcelona, a atriz e agora realizadora Rebecca Hall ficou no meu radar. O filme aborda o tema do racismo com uma nuance e discrição impressionantes, com interpretações fabulosas de Tessa Thompson (Westworld) e Ruth Nega, duas amigas de infância cujas vidas se interligam num enredo que nos prende ao ecrã.

 

4. POWER OF THE DOG de Jane Campion

Poderia apenas escrever Benedict Cumberbatch e parece-me que o leitor compreenderia, mas quando juntamos a dupla Kirsten Dunst e Jesse Plemons (marido e mulher além desta saga) o efeito é explosivo. Um western muito tenso, com momentos de terror nas nossas mentes, paisagens incríveis e um laço de irmãos ameaçado pelo amor romântico. A não perder.

 

5. DON’T LOOK UP de Adam Mckay

Adam Mckay é uma presença constante na cena de Hollywood desde os anos 2000. Começou com comédias do absurdo como Anchorman, transitando para a série Succession e American Hustle, retrata bem uma parte priveligiada da sociedade americana. Neste filme, uma clara crítica ao Partido Republicano e a Trump & Co., aos negacionistas das alterações climáticas, ao Conservadorismo e superficialidade da sociedade norte-americana, Leonardo DiCaprio torna-se o menos desejável possível para deixar Meryl Streep brilhar no papel de Trump femina. Leve e hilariante.

29
Dez21

O melhor de 2021 - Séries

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Neste ano, n’O Espaço das Pequenas Coisas, as séries tornaram-se um programa semanal e motivo de extensas crónicas. Umas mais fantásticas, outras mais introspetivas, todas de uma qualidade artística visual e de performances de atores notáveis. O critério que usei foi serem séries que me transportaram no espaço/tempo e séries que me fizeram refletir sobre o mundo.

 

1. WANDAVISION de Marvel

O ano começou logo com a Marvel a entrar televisão adentro com um estrondoso feitiço da Scarlet Witch. Já tinha assistido a alguns filmes do MCU (Marvel Cinematic Universe) mas nunca tinha percebido o contexto, as personagens, enfim nunca me interessei. Mas Elizabeth Olsen é uma das minhas atrizes hollywoodescas preferidas (pode assistir a Sorry for your loss aqui). Quando vi que Paul Bettany participava na série percebi imediatamente que esta série seria diferente. Claro que tem efeitos especiais e lutas, mas é também uma homenagem à televisão norte-americana, ao imaginário coletivo desde Lucy a Modern Family, com cenas tão absurdas quanto espetaculares.

 

2. O MÉTODO DE KOMINSKY de Netflix

Uma série magnífica que recomendada pelo meu irmão que a descreveu da seguinte forma: “É juntar o Michael Douglas e o Alan Arkin e deixar a câmera a trabalhar”. Obviamente convenceu-me de imediato por termos gostos tão semelhantes e comecei a ver com o meu Príncipe que também se enamorou do diálogo sublime. É, de facto, uma série em que o leitor (e espectador) pode sentir que não acontece nada a não ser uma longa conversa entre dois amigos que contemplam a vida e o seu fim. É amizade profunda e sincera, que me fez pensar no meu círculo de amigos e no fim iminente desde que nascemos.

 

3. SCENES FROM A MARRIAGE de HBO

Esta série, para mim, não só é a série do ano, como duas grandes performances de dois grandes atores, colegas de faculdade e amigos. O diálogo é sublime, a interpretação do outro mundo e a realização e cenário lindíssimos. Ficaram comigo até hoje e ficarão no meu imaginário das séries a imitar a vida.

 

4. OZARK de Netflix

Poderia falar de Succession, claramente a série do momento, mas esta série que cuja última temporada estreará nas próximas semanas reúne humor, traição, jogos políticos, lavagem de dinheiro e, claro, Laura Linney. Uma série muito subvalorizada (apesar de ter levado para casa o Golden Globe), Ozark é uma série obscura e, por vezes, assustadora, que mostra bem a resiliência do espírito humano.

 

5. AND JUST LIKE THAT de HBO

Uma menção honrosa mas não podia deixar de cá estar. Se WandaVision entrou em grande, Sex and the City fecham o ano em grande. A nostalgia das amigas de Nova Iorque trazem agora novas amigas, mais controvérsia e muito que falar.

28
Dez21

O melhor de 2021 - Música e Podcast

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Neste ano ouvi muita música e podcast. Redescobri o meu amor por ouvir discos inteiros, mesmo enquanto trabalho ou escrevo, o prazer de ouvir concertos de música clássica, a diversão de dançar sozinha ao som da música pop e a importância de manter a saúde mental enquanto fazia as tarefas domésticas ao som de podcast divertidos.

 

1. OFFICE LADIES com Jenna Fisher e Angela Kinsey (Earwolf)

Pelo segundo ano consecutivo foi o podcast que ouvi com maior regularidade (quase semanal!). Para quem adorou a série britânica e americana The Office nos anos 2000 ou para quem está a redescobrir alguns episódios como eu, este podcast é muito divertido. Comecei a ouvi-lo mesmo antes do covid e, para dizer a verdade, foi o único alívio temporário que tinha sozinha enquanto fazia coisas tão aborrecidas como a loiça ou passar a ferro. Neste ano descobri comentários sobre episódios dos quais já nem me lembrava, sempre bem apoiados pelos factos e curiosidades e pela dinâmica leve e divertida entre as apresentadoras. Quem diria que Pam e Angela seriam melhores amigas?

 

2. 30 de Adele

Este disco, lançado já quase no fim do ano, teve tanta ressonância em mim que escrevi uma crónica sobre ele. Uma reflexão sobre a experiência de envelhecer, de aprender com os erros, de cometer mais erros, da importância da leveza e diversão, da família. O álbum detalha a sua experiência após a separação do ex-marido mas apresenta uma sonoridade nova em Adele: um som antigo e intemporal do Jazz norte-americano, uma espécie de nostalgia. É uma conversa consigo mesma que começa com “Strangers by Nature”.

 

3. HAPPIER THAN EVER de Billie Eilish

A cantautora cresceu e com a produção do irmão Finneas escreveu um álbum sobre crescer e o fim do primeiro Amor, também com uma certa Nostalgia, mas também com um som mais disco-pop. Sempre uma experiência imersiva, particularmente no concerto “Love letter to Los Angeles” com o Maestro Gustavo Dudamel e a LA Philarmonic

 

4. SOLAR POWER de Lorde

O muitíssimo antecipado disco da cantora, que surpreendeu até os seus fãs, deixa para trás a melancolia e relembra-nos que a vida ainda será divertida. Um disco inspirado pelas alterações climáticas, mas sobretudo, pareceu-me, inspirado pela sua geração e, por isso, tão bonito.

 

5. [IN] PERTITNENTE de FFMS

A Fundação Francisco Manuel dos Santos tomou a seu cargo ser o compasso moral do país, trazendo-nos estudos compreensivos, livros, conferências e este podcast que aborda Política, Ciência, Sociedade e Economia apresentado por algumas das figuras mais proeminentes da cultura portuguesa. Com temas que vão desde a pandemia, fake news, desigualdade de género e a política norte-americana. A não perder.

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