Querido (leitor), mudámos de casa!
Há umas semanas mudámos de casa. Há muito tempo que queríamos mudar a nossa vida compacta e útil de um apartamento para uma vida com mais ar puro e Natureza. Depois veio o covid e, de repente, ficámos presos na jaula, sem poder sair, sem poder explorar trilhos, sem poder respirar com o medo paralisante do desconhecido. Mas depois vieram as vacinas e afinal o mundo não acabou, as empresas voltaram a abrir portas, para tornar a fechá-las nos meses seguintes. Foram implementadas “medidas de contenção” para logo tudo abrir para o Verão, o Natal e o Ano Novo, porque, afinal, percebeu-se que os seres humanos são gregários, precisamos uns dos outros para sobreviver, precisamos dos abraços, dos afetos, do amor.
Claro que as empresas também perceberam que precisamos desse contacto e, por isso, embora tenham existido mudanças profundas no mundo do trabalho, a verdade é que o contacto presencial semanal continua a ser prática da maior parte das empresas.
Compreende-se que assim seja tendo em conta o tecido empresarial português, tecelado por micro e pequenas e médias empresas, muitas vezes familiares, com contas para pagar, distribuidores interdependentes, relações de trabalho complexas. Neste “pano empresarial”, existem também os unicórnios portugueses e os mitossauros estrangeiros, startups portuguesas que crescem exponencialmente e megaempresas multinacionais que investem milhões no mercado português respetivamente.
Na maior parte desta manta de retalhos, algumas empresas convidam os seus colaboradores a passarem a maior parte do tempo no escritório, outras redefiniram-se e passaram a funcionar em regime de teletrabalho e outras ainda implementaram um sistema misto.
Voltemos à mudança de casa, desde que o mundo abriu, tivemos de pôr em prática algumas das coisas que lamentámos não ter feito quando parecia que o mundo ia acabar e outras que prometemos implementar se por um milagre o mundo não acabasse. Não mudámos para uma casa de campo, mas vivemos mais perto do trabalho, o que nos dá uma sensação de tranquilidade em si. Não somos forçados a conduzir nem sequer a andar de transportes públicos, podemos simplesmente caminhar.
O que aprendi neste tempo é que mudar de casa é mudar de vida. É olhar para todas as tralhas que acumulamos dentro da nossa casa, dentro de nós, e perceber que afinal não são essenciais. É perder o chão para voar e encontrar um novo poiso. É assustador e entusiasmante, é caótico e confuso, mas vale tanto a pena. De início nada encaixa, as gavetas não comportam os talheres, as formas de bolos não cabem na prateleira designada, os copos definitivamente não se organizam magicamente. Mas, neste novo puzzle, há mais espaço para imaginar as possibilidades intermináveis de uma nova vida, com mais tralhas que valham a pena.